quarta-feira, 25 de julho de 2007

Íntegra do bate-papo com Luiz Azenha

Rafael diz:
Azenha?
Luiz diz:
Diga.
Rafael diz:
Vamos começar?
Luiz diz:
Sim, vamos lá...
Luiz diz:
Primeiro quero dizer que escrevo de Oaxaca, no México,
Luiz diz:
um estado pobre em que há um grande conflito político e social no momento.
Luiz diz:
E o fato de que a gente conversa assim, ao vivo, pela internet, é em si fascinante.
Luiz diz:
Foi este fascínio que me fez investir no site, quase quatro anos atrás.
Rafael diz:
a Thayná Guilherme, de 12 anos, moradora do Jardim Campestre pergunta como é a vida aí no México
Luiz diz:
O México é um país bastante dividido, como o Brasil, aliás.
Luiz diz:
O homem mais rico do mundo vive aqui; há uma elite com muito dinheiro.
Luiz diz:
Mas a maioria da população enfrenta dificuldades econômicas.
Luiz diz:
Muita gente tenta fugir para os Estados Unidos em busca de trabalha mas agora ficou mais difícil por causa de um muro que foi construído na fronteira.
Rafael diz:
O José Júnior, de 12 anos também, pergunta como é ser jornalista nos dias de hoje.
Luiz diz:
José, ficou mais difícil ser jornalista em grandes jornais.
Luiz diz:
Ou em grandes emissoras de televisão.
Luiz diz:
O jornalista nem sempre pode contar tudo o que quer na TV ou no jornal. Por isso criei o meu site.
Luiz diz:
Mas a internet ajuda muito e facilita a vida do jornalista.
Rafael diz:
O Leonardo de Lima Marques, de 12 anos, pergunta oq te levou a ser jornalista
Luiz diz:
Leonardo, foi curiosidade. Eu sempre olhava para o mapa do mundo, desde uns dez anos, e dizia que gostaria de conhecer esta ou aquela cidade...
Luiz diz:
E foi com 11 anos que eu escrevia com meu irmão um jornal da rua onde morávamos.
Rafael diz:
O Cley José, de 23 anos, pergunta oq você tem a dizer da juventude que está sem emprego e que procura por uma oportunidade no mercado de trabalho
Luiz diz:
Cley, eu acho que esse é o grande problema do Brasil.
Luiz diz:
É um absurdo um país tão rico oferecer tão poucas oportunidades para os jovens.
Luiz diz:
Educação continua sendo o melhor caminho.
Luiz diz:
Mas eu entendo o quanto deve ser difícil para o jovem de hoje conseguir um bom emprego.
Rafael diz:
A Stefanie Pereira da Silva, de 08 anos, pergunta oq você foi fazer aí no México
Luiz diz:
Eu vim passar alguns dias de férias, com minhas filhas.
Luiz diz:
Estou num cibercafé em Oaxaca. Eu dizia que o México é um país parecido com o Brasil e dou um exemplo: no primeiro dia aqui, quando entramos no metro da Cidade do México, roubaram a minha carteira...
Luiz diz:
Eles aqui amam o Brasil.
Luiz diz:
Nas lojas, alem da camisa da seleçao mexicana só se vende a camisa do Brasil.
Rafael diz:
Diego Santos de Sousa, de 14 anos, pergunta: no México é mais complicado arrumar emprego?
Luiz diz:
Diego, li no jornal a mensagem de uma leitora desejando que o México pelo menos deveria ser como o Brasil. Apesar dos problemas similares que temos, o Brasil tem mais industria, tem mais comercio e tem uma economia mais dinâmica.
Luiz diz:
Ou seja, aqui é mais difícil arranjar emprego.
Rafael diz:
estamos te vendo pelo vídeo
Luiz diz:
Muitos jovens tentam passar para o lado dos Estados Unidos-...
Luiz diz:
A câmera deles é muito ruim...
Rafael diz:
dá pra (não) ver!!! rs
Luiz diz:
é mesmo... logo eu vou botar os vídeos que gravei aqui no YouTube e o pessoal poderá ver no meu site.
Rafael diz:
O José Alex, de 20 anos, pergunta qual foi a matéria mais difícil que você já gravou
Luiz diz:
José, foi na Índia. Eu e o cinegrafista Sherman Costa
Luiz diz:
estávamos investigando o trabalho infantil.
Luiz diz:
a exploração de crianças para costurar bolas de futebol.
Luiz diz:
e fomos pegos por um grupo de homens ligados ao que se chama de máfia da bola.
Luiz diz:
Foi em Jalandhar, uma pequena cidade.
Luiz diz:
E eles nos bateram, levaram todo o nosso equipamento, a não ser uma fita com as gravações que conseguimos esconder.
Luiz diz:
Escapamos de morrer por pouco.
Rafael diz:
Daniel Andrade, de 24 anos, pergunta se você foi ao Iraque gravar alguma matéria sobre a guerra que está acontecendo lá
Luiz diz:
Sim, fui ao Iraque e fique dez dias, pouco antes do ataque americano.
Luiz diz:
Todo o povo de lá dizia que ia dar nessa confusão, que os iraquianos jamais aceitariam a ocupação do país.
Luiz diz:
E foi o que escrevi e coloquei nas reportagens da TV.
Luiz diz:
Mesmo os adversários de Saddam Hussein, um ditador, eram contra a ocupação americana.
Luiz diz:
Esta moca que aparece no vídeo agora é uma mexicana que está passando uma reportagem sobre os protestos em Oaxaca para alguém na Cidade do México...
Luiz diz:
Esta contando sobre as manifestações de hoje.
Luiz diz:
A greve dos professores...
Rafael diz:
A Nazaré Martiniano, que trabalha aqui conosco, lhe dá os parabéns pela sua coragem e paixão que você encara a sua carreira
Luiz diz:
Obrigado, Nazaré.
Rafael diz:
O Marcio Cordeiro, de 22 anos, pergunta por que você saiu da TV Globo
Luiz diz:
Por falta de liberdade para dizer o que eu gostaria de dizer e também porque a Globo decidiu assumir uma posição política e eu acho que uma emissora não deve fazer isso.
Luiz diz:
Uma emissora de TV é uma concessão publica e, portanto, deve respeito aos cidadãos brasileiros que lhe conferem o direito de transmitir.
Luiz diz:
No entanto, a TV Globo decidiu fazer campanha contra o governo, por motivos que desconheço. Mas considero isso desleal com o Jornalismo e com os telespectadores.
Luiz diz:
Esse foi UM dos motivos, alem de querer tempo para tocar meus próprios projetos.
Rafael diz:
O Abraão de Souza Siqueira, de 14 anos, diz que o sonho dele é trabalhar na Rede Globo. O que ele deve fazer para conseguir esse objetivo?
Luiz diz:
Acho que ele deve estudar Jornalismo, se quiser ser jornalista. A Globo será uma conseqüência de uma carreira bem sucedida.
Luiz diz:
Ler bastante é essencial para aprender a escrever. E desenvolver o espírito crítico mais ainda.
Rafael diz:
A Thalita Guilherme, de 11 anos, pergunta: quem o incentivou a trabalhar no jornalismo
Luiz diz:
Thalita, foi meu pai, principalmente. E uma professora de inglês que fazia um jornalzinho da escola e me incentivou a ser repórter. O jornal chamava-se Abelhinha.
Rafael diz:
Cláudia Leite dos Santos, de 43 anos, pergunta: como é fazer jornalismo nesses tempos de internet e YouTube
Luiz diz:
É ótimo. É instantâneo. Eu posso postar fotos e textos no meu site de qualquer lugar do mundo.
Luiz diz:
Já imaginou como isso facilita a comunicação e o campo de ação de um jornalista?
Luiz diz:
Não dependo mais de uma emissora para trabalhar.
Rafael diz:
José Junior, de 12 anos, lhe faz outra pergunta: você tem amigos no jornalismo?
Luiz diz:
Sim, tenho amigos em todos os órgãos de imprensa...
Rafael diz:
Lucas da Silva, de 09 anos, pergunta: você consegue ganhar dinheiro mesmo fora da TV?
Luiz diz:
Lucas, muito menos do que eu ganhava na TV Globo.
Luiz diz:
Infelizmente, a internet ainda rende pouco.
Luiz diz:
Mas posso dizer que estou mais satisfeito hoje do que quando trabalhava na Globo.
Luiz diz:
Isso não vale para quem começa a carreira.
Luiz diz:
Acho que tem que passar pela Globo, Record, Folha, jornal comunitário, radio...
Luiz diz:
é preciso ter experiência em todos os meios...
Luiz diz:
aprender a usar todas as ferramentas da internet, aprender ESPANHOL antes de aprender inglês.,
Rafael diz:
A Milena Gomes dos Santos pergunta: como está o tempo aí no México?
Luiz diz:
É verão. Então faz um tremendo calor durante o dia e depois chove, sem falta, todo dia, no fim da tarde.
Luiz diz:
Mas o México é um país grande... estou no Sul, entre a Cidade do México e a fronteira com a Guatemala, numa região onde a maioria da população é indígena...
Rafael diz:
Matheus de Souza, de 12 anos, pergunta: você sempre conversa pelo bate-papo?
Luiz diz:
Não. Eu tenho pouco tempo. Por isso, não participo do Orkut e pouco falo no messenger.
Luiz diz:
A internet é um perigo: você passa o dia todo diante do computador e não vive a vida. Não fala com os amigos, não lê, não escreve...
Rafael diz:
O José te faz a terceira pergunta: como jornalista, o que você está achando das perguntas aqui do pessoal do SESC Santo André?
Luiz diz:
Achei todas ótimas.
Rafael diz:
Juliana Oliveira, de 14 anos, pergunta: o que é uma boa pergunta?
Luiz diz:
Depende. Como nós estamos nos conhecendo agora, as perguntas buscam mais um panorama de quem está do outro lado. No Jornalismo, as boas perguntas só surgem depois de um bom tempo de conversa olhando nos olhos...
Rafael diz:
O Thiago dos Santos, de 16 anos, pergunta: precisa de roteiro para entrevista uma pessoa?
Luiz diz:
Acho que o repórter deve ter capacidade de improvisar.
Luiz diz:
Deve ler sobre aquela pessoa, se for uma pessoa conhecida, por exemplo.
Luiz diz:
Mas deve começar a entrevista sem preconceitos, deve ouvir mais e falar menos.
Luiz diz:
E perguntar a partir das respostas do entrevistado.
Rafael diz:
O Ronaldo Luis, de 53 anos, pergunta: qual é a sua análise sobre o jornalismo que é feito no Brasil, especialmente na TV aberta?
Luiz diz:
Neste momento é muito pobre. Muito superficial.
Luiz diz:
E, claramente, é distorcido pelo fato de que os donos das empresas de comunicação não gostam do Lula, nem das políticas sociais do Lula.
Luiz diz:
Eu acho que só existe jornalista de oposição.
Luiz diz:
Mas existe uma diferença entre cobrar das autoridades - qualquer autoridade, de qualquer partido - e distorcer e omitir informações do público.
Luiz diz:
Um exemplo bem atual: antes mesmo da investigação do acidente da TAM já estavam jogando a culpa no governo...
Luiz diz:
Teve um jornal que publicou uma coluna de uma pessoa acusando o governo de assassinar 300 pessoas.
Luiz diz:
é um absurdo usar o Jornalismo desta forma, contra ou a favor de alguém.
Rafael diz:
Lourdes Maria, de 53 anos, pergunta: qual é a seu parecer sobre a TV Pública que o Lula quer instalar?
Luiz diz:
eu acho uma boa. Todo pais do mundo desenvolvido tem uma TV publica de qualidade.
Luiz diz:
Reino Unido tem a BBC, Estados Unidos tem a PBS, Canadá tem a CBC, Franca tem a TV 2, Itália tem a Rai, Japão tem a NHK, Alemanha tem a ZDF.
Luiz diz:
O objetivo primordial da TV comercial é ter audiência e ganhar dinheiro; a TV publica pode oferecer outro tipo de programação, inclusive educativa, sem a apelação da TV comercial.
Luiz diz:
Se vc olhar para a TV Caracol da Colômbia, a Televisa do México, a Venevision da Venezuela é tudo muito parecido.
Luiz diz:
Em paises em que a maioria é indígena ou de negros ou pardos a TV comercial parece um mundo à parte: a maioria é de brancos, parece que querem ser europeus...
Luiz diz:
É uma distorçao da realidade. O Brasil é um país pardo e negro, mas se vc olhar na TV a maioria é de loiras, muitas delas oxigenadas....
Luiz diz:
É uma vergonha incrível de ser brasileiro...
Luiz diz:
Revoltante.
Rafael diz:
O Leandro dos Santos, de 20 anos, faz uma pergunta: por que a programação de televisão atual, não tem programas didáticos?
Luiz diz:
Porque custa caro e dá menos audiência.
Luiz diz:
É mais fácil botar umas bailarinas...
Rafael diz:
A Daiana dos Santos, de 20 anos, pergunta: a TV Cultura é um bom exemplo de jornalismo e de TV?
Luiz diz:
Deixa eu puxar o saco do SESC: vocês assistem na TV as coisas boas que o SESC promove?
Luiz diz:
Dificilmente.
Luiz diz:
O SESC tem um monte de coisa bacana, peças de teatro, oficinas, etc., mas isso raramente é divulgado na televisão.
Luiz diz:
A TV não experimenta, porque não quer correr o risco de perder publico; mas o SESC experimenta.
Luiz diz:
Volto à pergunta da Daiana: a TV Cultura tem coisas boas e ruins. O melhor programa infantil é da TV Cultura de SP, o Castelo, e o melhor programa de debates também, o Roda Vida. A TV comercial brasileira não debate os problemas do Brasil, é um absurdo.
Luiz diz:
É uma programação completamente desvinculada da vida dos brasileiros, do Brasil real.
Luiz diz:
Queria falar também do SENAI, que é uma exemplo de escola técnica de qualidade.
Luiz diz:
digo um exemplo...
Rafael diz:
A Damares dos Santos da Silva, de 10 anos, pergunta se você gostou de falar conosco
Luiz diz: Damares, gostei muito de falar com vcs. Espero que vcs tenham gostado do bate-papo. E que a gente possa um dia conversar pessoalmente. Eu acho que todo mundo pode ser jornalista hoje em dia, por isso meu entusiasmo com a internet como ferramenta de educação e informação.
Luiz diz:
Aqui pouca gente tem internet em casa, então tem lanhouse na cidade inteira...
Luiz diz:
Estou diante de uma praça, chamada Zócalo, onde se reúnem os professores em greve. Aqui em Oaxaca está acontecendo o Carnaval deles.
Luiz diz:
Então é mistura de festa com protesto.
Rafael diz:
Rafael Spaca: Azenha, foi um grande prazer bater um papo com você. Com certeza ajudou e tirou bastante dúvidas das pessoas que participaram. Foram mais de 30 pessoas.
Luiz diz:
Um grande abraço a todos vcs, obrigado pela participação e a gente se vê um dia desses aì no Brasil, ok?
Rafael diz:
Rafael Spaca: Esperamos um dia recebê-lo aqui na unidade, pessoalmente
Luiz diz:
Na semana que vem, quando retornar ao Brasil, vou colocar no meu site todos os vídeos que estou gravando aqui no México. Tem muita coisa bacana. E terei prazer de visitá-los aí em Santo André. abs
Rafael diz:
Rafael Spaca: Um grande abraço e obrigado pela participação. Vou colocar a íntegra deste bate-papo no Blog da Internet Livre, para as pessoas que não tiveram o prazer de acompanhar, ler e ver como foi essa experiência
Rafael diz:
Rafael Spaca: Em nome de todos aqui, lhe desejamos uma ótima estada aí no México e um grande abraço. Tchau!
Luiz diz:
Tchau, gente, abs a todos e até breve.

Um comentário:

Leandro disse...

passando para dizer q esse blog é show...