quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

DRUMMOND E A BOLA

"O difícil, o extraordinário não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé". Pelé: 1.000 (1969)


"Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério. Entretanto, a criança menos informada o possui". Mistério da Bola (1954)


"Não há nada mais triste do que papel picado, no asfalto, depois de um jogo perdido. São esperanças picadas". Jogo à Distância (1966)


"Perder é uma forma de aprender. E ganhar, uma forma de se esquecer o que se aprendeu". (1974)


"Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho". Mané e o Sonho (1983)



Drummond: a lucidez e a paixão de um poeta torcedor

Tomando a paixão brasileira pelo futebol, Carlos Drummond de Andrade buscava ampliar as noções de vitórias e derrotas para, a partir delas, ler criticamente a sociedade brasileira. Com uma linguagem coloquial e direta, suas crônicas futebolísticas priorizavam a trindade santa do futebol, aquilo que ele mais gostava: o torcedor, suas características e os espetáculos proporcionados nas arquibancadas e ruas; a seleção brasileira, espécie de símbolo de um patriotismo ora benéfico, ora preocupante; e os craques, semi-deuses a quem emprestamos nossos sonhos e desejos.


O futebol também lhe servia de laboratório perceptivo para ler e interpretar o Brasil e a nossa nacionalidade. Nas análises das derrotas da seleção, Drummond a tomava como uma renovação da vida. Para ele, o fair play era o "cavalheirismo da derrota". "Uma paixão: a bola, o drible, o chute, o gol". Nas suas crônicas futebolísticas, encontravam-se a pobreza e as alegrias compensatórias; o negro no futebol; a democracia do futebol.


Ele também acompanhou as mudanças no futebol: o chamado futebol arte, que entorpecia as mentes e alimentava sonhos; o futebol da força física e do rigor tático; o futebol empreendedor, de onde o poeta fazia críticas às políticas e cartolagens e aproveitava para relacioná-las às outras políticas nacionais. Também refletiu sobre o uso político das conquistas de copas pela seleção brasileira e sobre a midiatização do futebol. Drummond, um poeta lúcido e um torcedor apaixonado.

Nenhum comentário: