sexta-feira, 7 de março de 2008

Íntegra do bate-papo com Juca Kfouri


Rafael diz:
Juca, podemos começar?
Juca diz:
é claro!
Rafael diz:
bom, é um prazer recebê-lo aqui
Juca diz:
Do mesmo modo!
Rafael diz:
O que a Internet modificou (se modificou) o seu trabalho como jornalista?
Juca diz:
Facilitou muito a pesquisa e aumentou uma barbaridade o contato com os leitores, ouvintes e telespectadores. Sem se dizer que trouxe essa coisa do blog, que simplesmente me tornou um escravo.
Rafael diz:
Seu blog é o mais lido dentre os blogues de segmento esportivo. Há uma explicação?
Juca diz:
Provavelmente por estar no UOL, o maior dos portais.
Rafael diz:
e por ser o Juca, isso não ajuda?
Juca diz:
Talvez um pouco, com quase 40 anos na estrada...
Rafael diz:
Uma das características do seu trabalho é a investigação, a denuncia. O que o fez seguir nesta diretriz?
Juca diz:
A descoberta de tanta coisa errada no meio do esporte quando eu comecei na profissão, em 1970. Achei que os amantes do esporte tinham o direito de saber das coisas que mancham sua paixão e que é obrigação do jornalista contá-las.
Rafael diz:
o Clayton Nascimento, de 15 anos, pergunta: você gosta de ser jornalista?
Juca diz:
Clayton, gostar eu não gosto. Eu adoro. Gosto demais do que faço.
Rafael diz:
O Victor Hugo, de 14 anos, pergunta: desde criança você queria ser jornalista?
Juca diz:
Victor, na verdade, eu nem sonhava com isso, embora tivesse um avô jornalista. Eu queria ser professor universitário e entrei na faculdade pensando nisso. Daí surgiu um convite para eu ir trabalhar na revista Placar, que seria lançada naquele ano, 1970. Foi aí que o vírus do jornalismo me pegou para sempre...
Rafael diz:
Quais foram as suas referências no jornalismo esportivo?
Juca diz:
João Saldanha, a maior delas, além de Hedyl Valle Júnior, que foi meu chefe assim que comecei e que, infelizmente, morreu muito jovem.
Rafael diz:
O wesley Santana Dantas, de 15 anos, fez uma pesquisa na internet e descobriu que você estudou na USP, Ciências, é isso mesmo?
Juca diz:
Pois é, Dantas, é isso mesmo. Fiz Ciências Sociais na USP.
Rafael diz:
Ele continua a pergunta: você saiu da USP? Desistiu do curso?
Juca diz:
Não, me formei e comecei até a fazer pós-graduação, que não completei porque assumi a chefia de reportagem da Placar.
Rafael diz:
O Brasil é um grande celeiro de craques, você acha que a imprensa brasileira, atualmente, está no mesmo nível?
Juca diz:
Antes fosse. Tem muita gente boa em nossa imprensa esportiva, de fato, mas o que tem de perna-de-pau é uma grandeza. Nosso futebol é, enfim, melhor que nossa imprensa esportiva.
Rafael diz:
O Rodrigo Alberto, de 11 anos, pergunta: qual foi a grande entrevista que você realizou?
Juca diz:
Rodrigo, é difícil responder, porque eu posso achar uma e os leitores outra. A que mais repercutiu foi uma com o Pelé, em 1993, quando ele denunciou corrupção na CBF, a mesma com que ele acaba de fazer mais um acordo, por ironia...A que mais gosto, impressa, foi com o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner. Na TV a que mais gosto foi com o cantor Ronnie Von.
Rafael diz:
Agora mais uma pergunta: Os programas esportivos da TV aberta, em sua maioria, são caracterizados pelas brincadeiras de mau gosto, pelas polemicas gratuitas, etc. O que acha disso?
Juca diz:
Acho deplorável, lastimo, passam uma péssima imagem, não fazem jornalismo e ainda fazem propaganda, até de empresas comandadas por empresários também de jogadores, num total conflito de interesses.
Rafael diz:
Existe ‘jabá’ no futebol? Jornalista que é pago para falar bem de determinado clube, jogador, técnico, etc?
Juca diz:
Infelizmente, sim. Se um cara faz propaganda, por exemplo, de um supermercado cujo dono empresaria atletas, você acha que ele criticará um atleta do empresário? Não, ao contrário, ele encherá a bola do cara e por aí afora.
Rafael diz:
O Wesley pergunta: A Copa de 2014 vai ser boa para o país? O Brasil é capaz de organizar?
Juca diz:
Wesley, deveria ser, como foi para Espanha, para a Alemanha, etc. E podemos fazê-la sim, desde que com a nossa cara, não com a da Espanha ou da Alemanha. Mas não temos nenhum motivo para confiar no grupo que está no comando da empreitada.
Rafael diz:
O Elson de Assis, de 16 anos pergunta: Tempos atrás o programa ‘Cartão Verde’ da TV Cultura era uma referência na TV aberta. O programa contava com a sua presença e a do José Trajano. Há espaço para jornalistas do nível de vocês dois nas emissoras abertas?
Juca diz:
Elson, como se vê, cada vez menos, embora na TV Cultura ainda haja.
Rafael diz:
O Elson continua: Hoje você e o Trajano trabalham juntos na ESPN-Brasil. Você acompanha o trabalho do Flávio Prado na TV Gazeta? Se sim, acha que ele mudou a postura?
Juca diz:
Elson, ele mesmo disse numa entrevista à revista CartaCapital que "capitulou". É triste, mas é fato...
Rafael diz:
O Manuel Alexandre, de 09 anos, pergunta: depois do futebol, qual é o seu esporte predileto?
Juca diz:
Manuel, o basquete, que até joguei. E BEM!!!!!!!!!!!
Rafael diz:
O Victor Hugo pergunta: acha que o Brasil vai se dar bem nas Olimpíadas?
Juca diz:
Victor, não pode se dar bem no sentido de ganhar muitas medalhas porque a disparidade entre nós e os países mais avançados é enorme. Na verdade, nem deveríamos estar preocupados com isso ainda, em ganhar medalhas olímpícas. Deveríamos estar preocupados em disseminar a prática esportiva pelo país afora, massificar o esporte como fato de saúde, de prevenção às doenças que nos assolam.
Rafael diz:
O Alexandre Alves, de 25 anos, pergunta: por ser considerado um jornalista polêmico, recebe processos e protestos quando escreve e fala sobre determinado assunto ou pessoa?
Juca diz:
Alexandre, faz parte. Ninguém gosta de ser desnudado, de ser pego em flagrante. E quando isso acontece, esperneia, ameaça, processa, faz o diabo.
Rafael diz:
O Rafael Braga, de 26 anos, pergunta: Há censura ?
Juca diz:
Rafael, trabalho, acredite, com absoluta liberdade. A única vez em que houve tentativa de limitar essa liberdade, na Editora Abril, em 1995, fui embora, depois de 25 anos de casa. Não sei trabalhar de outro modo.
Rafael diz:
O Edson Ramos, de 21 anos, pergunta: você é craque na Internet? É você mesmo que escreve no Blog e responde?
Juca diz:
Edson, craque não sou não. Sei o básico e olhe lá. Mas, sim, trabalho sozinho, não sei delegar, sou eu quem escreve no blog e responde, cada vez menos, os comentários, que são muitos.
Rafael diz:
A Nazaré pergunta: qual é o seu hobby?
Juca diz:
Nazaré, não é exatamente um hobby, é uma paixão, quase uma razão de existir: minhas netas...
Rafael diz:
A Fátima pergunta: você conhece o SESC Santo André?
Juca diz:
Fátima, o de Santo André, não, infelizmente. Mas conheço diversas sedes e sou absolutamente admirador do Sesc e desde sempre, porque tenho contato com ele lá se vão uns 40 anos. Até mesmo no tempo da ditadura militar o Sesc tinha um trabalho corajoso, sempre capaz de abrigar gente perseguida etc. Não nego nada, enfim, que o Sesc me peça.
Rafael diz:
O Wesley pergunta: quais são os seus planos para o futuro?
Juca diz:
Wesley, nunca fiz planos, sempre deixei a vida me levar e não posso me queixar. Não será agora, quase aos 60 anos, que passarei a fazê-los. Só sei que não penso em me aposentar, quero morrer trabalhando como jornalista.
Rafael diz:
A Bianca Freitas diz: quantas horas por dia você trabalha?
Juca diz:
Bianca, muito mais do que deveria, mas, como gosto, me traio. Umas 14 horas, sem exagero.
Rafael diz:
O Vinicius Ranier, pergunta: quais as chances de jogadores de categoria de base jogar no exterior?
Juca diz:
Vinicius, cada vez maiores, com a desorganização dos nossos clubes e com a facilidade que os estrangeiros têm de vir aqui e buscar talentos.
Rafael diz:
O Marcelo Akira, de 14 anos, pergunta: sua família é toda corintiana? Tem vira-casaca?
Juca diz:
Marcelo, minha mulher, meus quatro filhos e meu três irmãos são corintianos. Meu pai também era, assim como minha mãe, que dizia que era, mas, na verdade torcia pelo Flamengo, carioca que era de nascimento. Mas tem são paulinos entre tios e primos, porque nada é perfeito...
Rafael diz:
A Natália Vieira, de 13 anos, pergunta: qual é a camisa de time mais bonita do Brasil?
Juca diz:
Natália, a do Juventus.
Rafael diz:
Renato Mateus de Oliveira, de 17 anos, pergunta: como corintiano, o que você achou da camisa roxa do seu time? Você usaria uma dessa?
Juca diz:
Renato, eu não posso usar nenhuma, por motivos óbvios. Mas eu gosto da idéia sim.
Rafael diz:
O Manuel Alexandre, pergunta: você foi um bom aluno no colégio? Qual é foi a sua matéria predileta?
Juca diz:
Manuel, foi médio até a terceira série de ginásio, quando levei bomba em matemática e tive de repetir. Daí em diante, até sair da faculdade, fui sempre dos melhores da classe, porque não há nada mais chato que repetir o ano.
Rafael diz:
O Clayton pergunta: você é um corintiano sofredor? Ficou triste com a 2º divisão?
Juca diz:
Clyaton, sou, até porque sou da geração que ficou 22 anos na fila. Claro que não gostei nada da queda, mas achei pior o acordo com a MSI.
Rafael diz:
O Rodrigo Munhoz, pergunta: qual foi a maior alegria e a maior tristeza que o esporte lhe deu?
Juca diz:
Rodrigo, as duas maiores alegrias foram os títulos do Corinthians em 1977, o do fim do jejum, e o de 2000, do primeiro mundial de clubes da Fifa. As maiores tristezas foram a derrota do Corinthians em 1974 e a do Brasil na Copa de 1982.
Rafael diz:
A Janaina Nunes, de 18 anos, pergunta: você acha que os jogadores deveriam estudar mais? Eles falam muito mal...
Juca diz:
Janaina, os brasileiros todos deveriam ter mais acesso à escola...
Rafael diz:
Juca, estamos terminando...
Juca diz:
Já?
Rafael diz:
Foi um prazer conversar com você
Juca diz:
Do mesmo modo e espero que todos tenham gostado. Até a próxima!
Rafael diz:
É uma honra. E lhe convidamos a nos visitar aqui no SESC Santo André
Juca diz:
Prometo que quando for por aí, avisarei.
Rafael diz:
última pergunta: o que achou de usar o MSN?
Juca diz:
Muito legal. Meu filho mais moço vive insistindo que eu o faça...
Rafael diz:
Legal! Um abraço e parabéns pelo trabalho!
Rafael diz:
Tchau
Juca diz:
Gracias, viejo

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