quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Sala da Internet Livre
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
No YouTube!
A matéria do programa 'A Noite é uma Criança' já está na rede.
Clique: http://br.youtube.com/watch?v=o9v-4AGPfPI
Clique: http://br.youtube.com/watch?v=o9v-4AGPfPI
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Sala da Internet
domingo, 25 de novembro de 2007
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
Novos Vídeos no YouTube
O montador de filmes Mauro Alice, no projeto 'Loucos por Cinema': http://www.youtube.com/watch?v=bXBzGxjWqoc
Benicio ensinando a fazer cartaz de cinema, no projeto 'Loucos por Cinema':
http://www.youtube.com/watch?v=QMUpaOS5Aig
Benicio ensinando a fazer cartaz de cinema, no projeto 'Loucos por Cinema':
http://www.youtube.com/watch?v=QMUpaOS5Aig
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Histórico sobre a 'Hora do Curta'
O projeto ‘Hora do Curta’ tinha como escopo, trazer ao público novas linguagens contemporâneas da Internet e cinema. Os filmes eram exibidos na Sala da Internet Livre, sem interferir na programação da Sala: o espaço da sala tornava-se de múltiplo uso e as atividades da sala prosseguiam ao mesmo tempo em que havia projeção de cinema. Deste modo criava-se uma atmosfera cultural abrangente.
Em 18 meses de projeto, foram exibidos 132 filmes de animação, documentários, ficção e trabalhos conceituais ou experimentais.
Por aqui passaram:
- Festival de Vídeo de São Carlos
- Academia Internacional de Cinema de São Paulo
- FLUXUS - Festival Internacional de Cinema na Internet
- Clássicos do Porta Curtas
- Cactos Intactos (Guerrilha Cultural do Rio de Janeiro)
- Cinema de Fernando Sabino e David Neves
A escolha por este projeto não se ateve apenas ao conteúdo dos curtas, mas pelos méritos de seus roteiros, os quais têm em suas produções um histórico abrangente, que inclui estudo de temas como estilo, desenvolvimento de personagens, manobras ecléticas de roteiro e literatura, o que permite um resultado tão avançado quanto o de mega-produções. Os curtas contêm a essencialidade de relatar uma história com detalhes, indiferente do seu tempo restrito. Todos os trabalhos trazem conteúdos com estilos e estruturas narrativas que são normalmente usadas no melhor do mercado cinematográfico.
Nossa finalidade é a de difundir a cultura. Desta maneira, a formação do público que participava das atividades e migravam para outros espaços da unidade, como teatro, shows, exposições entre outros, era o resultado do investimento cultural que vem em virtude deste projeto. Os participantes constroem um repertório amplo e adquirem uma visão mais critica dos filmes e, principalmente, da cultura de um modo geral.
O projeto ‘Hora do Curta’ foi uma iniciativa para valorizar o curta brasileiro, reafirmando o gênero como expressão cultural, técnica e estética.
Equipe da Internet Livre.
Em 18 meses de projeto, foram exibidos 132 filmes de animação, documentários, ficção e trabalhos conceituais ou experimentais.
Por aqui passaram:
- Festival de Vídeo de São Carlos
- Academia Internacional de Cinema de São Paulo
- FLUXUS - Festival Internacional de Cinema na Internet
- Clássicos do Porta Curtas
- Cactos Intactos (Guerrilha Cultural do Rio de Janeiro)
- Cinema de Fernando Sabino e David Neves
A escolha por este projeto não se ateve apenas ao conteúdo dos curtas, mas pelos méritos de seus roteiros, os quais têm em suas produções um histórico abrangente, que inclui estudo de temas como estilo, desenvolvimento de personagens, manobras ecléticas de roteiro e literatura, o que permite um resultado tão avançado quanto o de mega-produções. Os curtas contêm a essencialidade de relatar uma história com detalhes, indiferente do seu tempo restrito. Todos os trabalhos trazem conteúdos com estilos e estruturas narrativas que são normalmente usadas no melhor do mercado cinematográfico.
Nossa finalidade é a de difundir a cultura. Desta maneira, a formação do público que participava das atividades e migravam para outros espaços da unidade, como teatro, shows, exposições entre outros, era o resultado do investimento cultural que vem em virtude deste projeto. Os participantes constroem um repertório amplo e adquirem uma visão mais critica dos filmes e, principalmente, da cultura de um modo geral.
O projeto ‘Hora do Curta’ foi uma iniciativa para valorizar o curta brasileiro, reafirmando o gênero como expressão cultural, técnica e estética.
Equipe da Internet Livre.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Recordar é Viver (Hora do Curta)
Essa reportagem saiu na Revista E. Foram quatro páginas dedicadas a nossa programação.
Série de documentários sobre grandes escritores brasileiros, realizada pelo cronista Fernando Sabino e o cineasta David Neves, mostra facetas inusitadas de gênios literários
Édifícil visualizar o poeta Carlos Drummond de Andrade, com todo o seu recato, brincando de esconde-esconde no prédio do Ministério da Educação. Ou o escritor Erico Verissimo fingindo ser um samurai que comete haraquiri, ritual suicida de guerreiros japoneses. Pois cenas como essas, retratando a intimidade de alguns dos maiores escritores brasileiros do século 20, foram capturadas e registradas em uma série de dez documentários produzidos, entre 1973 e 1974, pela Bem Te Vi Filmes - produtora que o escritor Fernando Sabino e o cineasta David Neves fundaram. Realizados em 35 milímetros e com dez minutos de duração cada um, os curtas-metragens revelam facetas inusitadas do ser humano comum que residia nos expoentes da literatura brasileira perfilados na série. Esses documentários, compilados em DVD com o título geral Encontro Marcado com o Cinema de Fernando Sabino e David Neves - referência ao romance Encontro Marcado, de 1956 -, lançado no ano passado pela gravadora Biscoito Fino, puderam ser vistos durante o mês de maio no Sesc Santo André, como parte do projeto Hora do Curta, que pretende criar uma atmosfera de cinema dentro da sala da internet livre. "A nossa idéia é fazer com que as pessoas que assistem aos curtas se habituem à linguagem cinematográfica e tomem gosto pelo cinema", explica o técnico da unidade Rafael Spaca.A série homenageia, além de Drummond e Verissimo, personalidades do mundo literário que vão dos romancistas Guimarães Rosa, Jorge Amado e José Américo de Almeida aos poetas Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira. Completam o quadro das letras o memorialista Pedro Nava e o intelectual Afonso Arinos de Melo Franco (veja boxe Time de bambas). Do conjunto, dois filmes não foram produzidos pela dupla que organizou o projeto. "Como o Bandeira já havia morrido, e o filme que o Joaquim Pedro de Andrade fez sobre o poeta era muito bom, o David e o Sabino compraram-no e o incorporaram a essa série", explica Mair Tavares, responsável pela montagem dos filmetes. Já o curta sobre João Cabral foi, de acordo com Tavares, feito por Jorge Laclette. "E esse foi o único que não montei", afirma. O DVD traz também um documentário extra com depoimentos sobre Fernando Sabino, morto em 2004, dirigido pelo filho, Bernardo Sabino. "Sempre quis fazer um registro sobre a vida do meu pai, pois ele foi muito cético quanto a fazer filmes sobre si mesmo. Então, filmei Encontro Marcado com Fernando Sabino", diz Bernardo. O diretor relata que a proximidade do pai com os perfilados foi muito importante para o resultado dos trabalhos. "Foi fundamental o convívio de amizade do papai com esses grandes escritores, assim pôde tirar a intimidade deles que ninguém conseguiria tirar", diz.
As várias facetas de SabinoFernando Tavares Sabino (1923-2004) nasceu na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Mais conhecido por escrever crônicas e romances, Sabino sempre foi jornalista. No entanto, seu desejo era ser músico de jazz. Sonho que conseguiu realizar como baterista do grupo Remblers Traditional Jazz Band, no qual tocou até 2002, dois anos antes de morrer. A estréia no cinema ocorreu em 1971, com o documentário O Dia de Braga, sobre o amigo e também cronista Rubem Braga. "Acho que a inquietação dele era tão grande que precisava partir para outras artes, por causa da ansiedade de criar", avalia Bernardo Sabino. "Tanto é que ele foi músico. No caso dos filmes sobre os escritores, acho que é um pouco isso: ele conseguiu transformar sua rotina de trabalho no seu sonho de fazer cinema."Essa busca de fusão de linguagens sempre esteve presente no trabalho de Sabino como cronista, em que fundia o traço poético à narrativa. E, segundo especialistas, isso também se deu nas obras cinematográficas. "Ele apresentava uma prosa poética em vários momentos de suas crônicas. E também encontro esse lirismo nos seus documentários, quando ele mostra os escritores ali, na vida corriqueira, na companhia das pessoas que ama", analisa a professora titular emérita de literatura brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Letícia Malard. Além do lirismo, a inovação é outra particularidade do cronista, que se dedicava a várias formas de expressão. É justamente disso que o dramaturgo Alcione Araújo fala no documentário Encontro Marcado com Fernando Sabino. "As pessoas eram mais exclusivas, mais especializadas. E ele foi rompendo com isso", explica. Araújo vai mais fundo no perfil do documentarista que soube tão bem retratar os amigos, ao relacionar a personalidade literária de Sabino com sua postura cotidiana. "Sabino não falava de literatura. Ele falava da vida, da importância da vida e da alegria de viver.".
Série de documentários sobre grandes escritores brasileiros, realizada pelo cronista Fernando Sabino e o cineasta David Neves, mostra facetas inusitadas de gênios literários
Édifícil visualizar o poeta Carlos Drummond de Andrade, com todo o seu recato, brincando de esconde-esconde no prédio do Ministério da Educação. Ou o escritor Erico Verissimo fingindo ser um samurai que comete haraquiri, ritual suicida de guerreiros japoneses. Pois cenas como essas, retratando a intimidade de alguns dos maiores escritores brasileiros do século 20, foram capturadas e registradas em uma série de dez documentários produzidos, entre 1973 e 1974, pela Bem Te Vi Filmes - produtora que o escritor Fernando Sabino e o cineasta David Neves fundaram. Realizados em 35 milímetros e com dez minutos de duração cada um, os curtas-metragens revelam facetas inusitadas do ser humano comum que residia nos expoentes da literatura brasileira perfilados na série. Esses documentários, compilados em DVD com o título geral Encontro Marcado com o Cinema de Fernando Sabino e David Neves - referência ao romance Encontro Marcado, de 1956 -, lançado no ano passado pela gravadora Biscoito Fino, puderam ser vistos durante o mês de maio no Sesc Santo André, como parte do projeto Hora do Curta, que pretende criar uma atmosfera de cinema dentro da sala da internet livre. "A nossa idéia é fazer com que as pessoas que assistem aos curtas se habituem à linguagem cinematográfica e tomem gosto pelo cinema", explica o técnico da unidade Rafael Spaca.A série homenageia, além de Drummond e Verissimo, personalidades do mundo literário que vão dos romancistas Guimarães Rosa, Jorge Amado e José Américo de Almeida aos poetas Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira. Completam o quadro das letras o memorialista Pedro Nava e o intelectual Afonso Arinos de Melo Franco (veja boxe Time de bambas). Do conjunto, dois filmes não foram produzidos pela dupla que organizou o projeto. "Como o Bandeira já havia morrido, e o filme que o Joaquim Pedro de Andrade fez sobre o poeta era muito bom, o David e o Sabino compraram-no e o incorporaram a essa série", explica Mair Tavares, responsável pela montagem dos filmetes. Já o curta sobre João Cabral foi, de acordo com Tavares, feito por Jorge Laclette. "E esse foi o único que não montei", afirma. O DVD traz também um documentário extra com depoimentos sobre Fernando Sabino, morto em 2004, dirigido pelo filho, Bernardo Sabino. "Sempre quis fazer um registro sobre a vida do meu pai, pois ele foi muito cético quanto a fazer filmes sobre si mesmo. Então, filmei Encontro Marcado com Fernando Sabino", diz Bernardo. O diretor relata que a proximidade do pai com os perfilados foi muito importante para o resultado dos trabalhos. "Foi fundamental o convívio de amizade do papai com esses grandes escritores, assim pôde tirar a intimidade deles que ninguém conseguiria tirar", diz.
As várias facetas de SabinoFernando Tavares Sabino (1923-2004) nasceu na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Mais conhecido por escrever crônicas e romances, Sabino sempre foi jornalista. No entanto, seu desejo era ser músico de jazz. Sonho que conseguiu realizar como baterista do grupo Remblers Traditional Jazz Band, no qual tocou até 2002, dois anos antes de morrer. A estréia no cinema ocorreu em 1971, com o documentário O Dia de Braga, sobre o amigo e também cronista Rubem Braga. "Acho que a inquietação dele era tão grande que precisava partir para outras artes, por causa da ansiedade de criar", avalia Bernardo Sabino. "Tanto é que ele foi músico. No caso dos filmes sobre os escritores, acho que é um pouco isso: ele conseguiu transformar sua rotina de trabalho no seu sonho de fazer cinema."Essa busca de fusão de linguagens sempre esteve presente no trabalho de Sabino como cronista, em que fundia o traço poético à narrativa. E, segundo especialistas, isso também se deu nas obras cinematográficas. "Ele apresentava uma prosa poética em vários momentos de suas crônicas. E também encontro esse lirismo nos seus documentários, quando ele mostra os escritores ali, na vida corriqueira, na companhia das pessoas que ama", analisa a professora titular emérita de literatura brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Letícia Malard. Além do lirismo, a inovação é outra particularidade do cronista, que se dedicava a várias formas de expressão. É justamente disso que o dramaturgo Alcione Araújo fala no documentário Encontro Marcado com Fernando Sabino. "As pessoas eram mais exclusivas, mais especializadas. E ele foi rompendo com isso", explica. Araújo vai mais fundo no perfil do documentarista que soube tão bem retratar os amigos, ao relacionar a personalidade literária de Sabino com sua postura cotidiana. "Sabino não falava de literatura. Ele falava da vida, da importância da vida e da alegria de viver.".
Fotos da Oficina com Nilson Primitivo
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Relato do Chacal
O Chacal escreveu em seu blog o seguinte relato sobre a oficina aqui na Internet Livre:
viagem além da imaginação no sesc santo andré ontem. pego um baú de lata com destino a sampa. entro no tatu siderado do metrô, salto na estação imigrantes e sou abduzido por outra nave para santo andré. chego lá umas 17:30. a parada é às 19:00. rodo. zanzo pelas espetaculares instalações daquele navio interplanetário do sesc santo andré. ninguém pra me receber. eu sem dinheiro vivo e sem nenhum caixa eletrônico, nem pilha, num raio de quilômetros. volto para a internet livre onde se daria o acontecimento. apareceu rafael spaca, que havia me convidado. vamos ver a burocracia exigida para sair o pagamento. meu caro horácio, firma q me representa, não mandou os documentos pedidos. bolas, vai atrasar. bem fomos de novo para a internet livre. antes rafael me apresentou ao sesc. falou que a galera é bairrista e se interessam mais por eventos que falem do ABC e da luta operária. deve ser difícil de trazer a classe. uma enorme instalação de cinema chamada "loucos por cinema" ocupava uma das naves. ali por perto havia os legendários estúdios da vera cruz, um marco na chanchada nacional. havia tb programado um ciclo com "o bandido da luz vermelho", "deus e o diabo", "terra em transe". só biscoito fino para a massa operária. assim é o sesc. bem, deu 19 hs e o rafael jogou um microfone na minha mão e convocou a garotada de 8 a 12 anos que se divertia na internet. foi um anticlimax. como falar sobre contracultura para aquela meninada a fim de bisbilhotar no orkut e no msn, a vida da turma ? ninguém olhava pra mim. falei uns poemas: "Melecas", "unhas", andando entre eles. achei q podiam gostar. nem um nada. tocou o celular. atendi. era de curitiba. o samuel. continuei. uma moça que levara a filha, reclamou q eu não podia menosprezar o orkut e o msn, que aquilo era uma das poucas diversões daqueles meninos carentes, moradores de um área miserável em frente ao sesc. tive q concordar. a internet serve a mil e uma necessidades. cada um que busque a sua. falei dos blogs, suas vantagens e seu vício. de repente, a garotada foi saindo e foi entrando uma galera mais crescida. apareceu o pessoas da casa da palavra, um polo de cultura de santo andré. apareceu o zhô bertolini, edidor da revista cigarra, um monumento à arte da poesia subterrânea que há 25 anos ilumina santo andré e esse sítio verdamarguelo. surgiu do nada, waleska, primeira e única, minha amiguinha onipresente, que acaba faculdade de teatro. mora em são bernardo. conhece o abc. falou no cep 20.000, estava nas satyrianas e na vaca do drummond. ela logo interagiu e deblaterou. me envolvi e divaguei. rafael colocou esse chacalog no telão e meu modesto blog foi projetado para as multidões. pescaram eu falando na Flip, num dos links desse blog. achei q estava competindo comigo mesmo e acabei com a farra do meu eu virtual, falando o "falapalavra" ao vivo ali na roda. rodei e caí da cadeira, me espatifando no chão. foi molécula para todo lado. sai num rolamento. ninguém reparou. só eu. estabacado no chão. falei mais. falei sobre a informação, o capital, a mercadoria que circula a esmo. e da falta que um querer nos faz. em que vc acredita ? eu acredito que vc não acredita em nada e eu sou como você. acredita em mim nessa roda viva do money money money. eu acredito que preciso de você e você de mim.
bem a parada foi rolando como se na lua, no sesc santro andré estivéssemos. tudo rodando, circulando como numa viagem pós ultra pós moderna. deu 8:45. tava na hora. troquei mimos entre os presentes. ganhei uma cigarra novinha do zhô e dei-lhe um "carioca" antigo. deixei o programa/cartaz "bendita palavra maldita", evento realizado no sesc copacabana há 2 anos. depois fomos eu, rafael, waleska e uma amiga até o ponto final do 493. abraços, até breve. enfim cheguei à liberdade. onde comi umas sfihas e dormi o sono dos cibernéticos.
aywika !!!!!
selenitas ! selenitas !
viagem além da imaginação no sesc santo andré ontem. pego um baú de lata com destino a sampa. entro no tatu siderado do metrô, salto na estação imigrantes e sou abduzido por outra nave para santo andré. chego lá umas 17:30. a parada é às 19:00. rodo. zanzo pelas espetaculares instalações daquele navio interplanetário do sesc santo andré. ninguém pra me receber. eu sem dinheiro vivo e sem nenhum caixa eletrônico, nem pilha, num raio de quilômetros. volto para a internet livre onde se daria o acontecimento. apareceu rafael spaca, que havia me convidado. vamos ver a burocracia exigida para sair o pagamento. meu caro horácio, firma q me representa, não mandou os documentos pedidos. bolas, vai atrasar. bem fomos de novo para a internet livre. antes rafael me apresentou ao sesc. falou que a galera é bairrista e se interessam mais por eventos que falem do ABC e da luta operária. deve ser difícil de trazer a classe. uma enorme instalação de cinema chamada "loucos por cinema" ocupava uma das naves. ali por perto havia os legendários estúdios da vera cruz, um marco na chanchada nacional. havia tb programado um ciclo com "o bandido da luz vermelho", "deus e o diabo", "terra em transe". só biscoito fino para a massa operária. assim é o sesc. bem, deu 19 hs e o rafael jogou um microfone na minha mão e convocou a garotada de 8 a 12 anos que se divertia na internet. foi um anticlimax. como falar sobre contracultura para aquela meninada a fim de bisbilhotar no orkut e no msn, a vida da turma ? ninguém olhava pra mim. falei uns poemas: "Melecas", "unhas", andando entre eles. achei q podiam gostar. nem um nada. tocou o celular. atendi. era de curitiba. o samuel. continuei. uma moça que levara a filha, reclamou q eu não podia menosprezar o orkut e o msn, que aquilo era uma das poucas diversões daqueles meninos carentes, moradores de um área miserável em frente ao sesc. tive q concordar. a internet serve a mil e uma necessidades. cada um que busque a sua. falei dos blogs, suas vantagens e seu vício. de repente, a garotada foi saindo e foi entrando uma galera mais crescida. apareceu o pessoas da casa da palavra, um polo de cultura de santo andré. apareceu o zhô bertolini, edidor da revista cigarra, um monumento à arte da poesia subterrânea que há 25 anos ilumina santo andré e esse sítio verdamarguelo. surgiu do nada, waleska, primeira e única, minha amiguinha onipresente, que acaba faculdade de teatro. mora em são bernardo. conhece o abc. falou no cep 20.000, estava nas satyrianas e na vaca do drummond. ela logo interagiu e deblaterou. me envolvi e divaguei. rafael colocou esse chacalog no telão e meu modesto blog foi projetado para as multidões. pescaram eu falando na Flip, num dos links desse blog. achei q estava competindo comigo mesmo e acabei com a farra do meu eu virtual, falando o "falapalavra" ao vivo ali na roda. rodei e caí da cadeira, me espatifando no chão. foi molécula para todo lado. sai num rolamento. ninguém reparou. só eu. estabacado no chão. falei mais. falei sobre a informação, o capital, a mercadoria que circula a esmo. e da falta que um querer nos faz. em que vc acredita ? eu acredito que vc não acredita em nada e eu sou como você. acredita em mim nessa roda viva do money money money. eu acredito que preciso de você e você de mim.
bem a parada foi rolando como se na lua, no sesc santro andré estivéssemos. tudo rodando, circulando como numa viagem pós ultra pós moderna. deu 8:45. tava na hora. troquei mimos entre os presentes. ganhei uma cigarra novinha do zhô e dei-lhe um "carioca" antigo. deixei o programa/cartaz "bendita palavra maldita", evento realizado no sesc copacabana há 2 anos. depois fomos eu, rafael, waleska e uma amiga até o ponto final do 493. abraços, até breve. enfim cheguei à liberdade. onde comi umas sfihas e dormi o sono dos cibernéticos.
aywika !!!!!
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Chacal e a sua Poesia
Primeiro eu quero falar de amor
meu amor se esparrama na grama
meu amor se esparrama na cama
meu amor se espreguiça
meu amor deita e rola no planeta.
_____________________________________________________
Prezado Cidadão
colabore com a Lei
colabore com a Light
mantenha luz própria.
meu amor se esparrama na grama
meu amor se esparrama na cama
meu amor se espreguiça
meu amor deita e rola no planeta.
_____________________________________________________
Prezado Cidadão
colabore com a Lei
colabore com a Light
mantenha luz própria.
Fotos da Oficina do Chacal
Escola de Diadema visita a Internet Livre
Cerca de 35 pessoas da Escola Municipal Paineiras de Diadema vieram até o SESC Santo André para usar os computadores da Internet Livre.
Sexta-feira, dia 09 de novembro de 2007.
Sexta-feira, dia 09 de novembro de 2007.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
MOVA no Loucos por Cinema
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Arte é esse poema de Drummond (Sou Contra)
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Recordar é Viver (Cozinha Virtual)
terça-feira, 6 de novembro de 2007
SOU CONTRA NA IMPRENSA
Saiu uma matéria sobre o nosso projeto, confiram: http://www2.redejovem.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=31&infoid=2716&sid=4&tpl=view_0800
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Programação de Novembro
SOU CONTRA
A contra-cultura virou cultura ou você é contra? Artistas considerados marginais que, com o auxilio da internet, amplificaram sua voz e tornaram sua obra (re)conhecida por todo o país.
Ser do Contra
Navegação dirigida a sites de música, história e artes plásticas alusivos ao movimento de contra-cultura. Com Rafael Nunes e Rafael Spaca. Sala da Internet Livre. Grátis
Dias: 07/11, 14/11, 21/11, 28/11. Quartas, às 19h.
Chacal
Um dos maiores expoentes da poesia marginal apresenta ao público sua poesia falada, com teatro e performance. Sala da Internet Livre. Grátis
Dia: 13/11. Terça, às 19h.
Nilson Primitivo
O cineasta é figura reconhecida e esperada nos eventos de cinema independente do país. Diferentemente da turma que aderiu às facilidades da tecnologia digital, ele usa uma velha câmera de 16 milímetros, mas graças a internet teve o seu trabalho conhecido. Em seguida do bate-papo, serão exibidos três curtas: 'Mais Velho', 'Idade da Pedra' e 'O Crack do Futuro'. Sala da Internet Livre. Grátis
Dia: 20/11. Terça, às 19h.
Artes Marginais
Teatro, música, literatura, vídeo e geração Beat. Com o vultoso crescimento dos meios de comunicação, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertam das amarras tradicionais e locais, ganhando uma dimensão mais universal. Com Marcelo Montenegro, do Cemitério de Automóveis. Sala da Internet Livre. Grátis
Dia: 27/11. Terça, às 19h.
A contra-cultura virou cultura ou você é contra? Artistas considerados marginais que, com o auxilio da internet, amplificaram sua voz e tornaram sua obra (re)conhecida por todo o país.
Ser do Contra
Navegação dirigida a sites de música, história e artes plásticas alusivos ao movimento de contra-cultura. Com Rafael Nunes e Rafael Spaca. Sala da Internet Livre. Grátis
Dias: 07/11, 14/11, 21/11, 28/11. Quartas, às 19h.
Chacal
Um dos maiores expoentes da poesia marginal apresenta ao público sua poesia falada, com teatro e performance. Sala da Internet Livre. Grátis
Dia: 13/11. Terça, às 19h.
Nilson Primitivo
O cineasta é figura reconhecida e esperada nos eventos de cinema independente do país. Diferentemente da turma que aderiu às facilidades da tecnologia digital, ele usa uma velha câmera de 16 milímetros, mas graças a internet teve o seu trabalho conhecido. Em seguida do bate-papo, serão exibidos três curtas: 'Mais Velho', 'Idade da Pedra' e 'O Crack do Futuro'. Sala da Internet Livre. Grátis
Dia: 20/11. Terça, às 19h.
Artes Marginais
Teatro, música, literatura, vídeo e geração Beat. Com o vultoso crescimento dos meios de comunicação, a difusão de normas, valores, gostos e padrões de comportamento se libertam das amarras tradicionais e locais, ganhando uma dimensão mais universal. Com Marcelo Montenegro, do Cemitério de Automóveis. Sala da Internet Livre. Grátis
Dia: 27/11. Terça, às 19h.
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
100º POST
A importância de um Blog
Blog é uma abreviação de weblog, qualquer registro freqüente de informações pode ser considerado um blog.A maioria das pessoas tem utilizado os blogs como diários pessoais, porém um blog é muito mais que isso, ele pode ter qualquer tipo de conteúdo e ser utilizado para diversos fins. Uma das vantagens das ferramentas do blog é permitir que os autores publiquem seu conteúdo sem a necessidade de saber como são construídas páginas na internet, ou seja, sem conhecimento técnico especializado.
Isso é democrático. A Internet é democrática.
Podemos expor opiniões, informações e relatos de tudo o que queremos disponibilizar de conhecimento para o público. Um Blog é um registro cronológico e freqüentemente atualizado de opiniões, emoções, fatos, imagens ou qualquer outro tipo de conteúdo que o autor ou autores queiram disponibilizar. É sempre uma forma do seu autor ou dos seus autores se expressarem, de publicarem o que querem ver publicado, e que provavelmente não se enquadraria em qualquer outro meio de comunicação.
O nosso Blog serve para registrar o desenvolvimento de vários processos (nosso trabalho na Internet Livre, a memória da Sala, o andamento das oficinas, etc.), e, principalmente, para fazer ouvir uma voz (ou várias vozes) que não teriam a possibilidade de se expressarem em qualquer outro meio.
Os retrógrados (que ainda estão com a cabeça no século 18 e 19) dizem que o Blog (que é uma invenção do século 20) é coisa para quem não tem o que fazer. Nós discordamos plenamente.
Blog é uma importante ferramenta para quem tem o que fazer e mostrar.
Isso é democrático. A Internet é democrática.
Podemos expor opiniões, informações e relatos de tudo o que queremos disponibilizar de conhecimento para o público. Um Blog é um registro cronológico e freqüentemente atualizado de opiniões, emoções, fatos, imagens ou qualquer outro tipo de conteúdo que o autor ou autores queiram disponibilizar. É sempre uma forma do seu autor ou dos seus autores se expressarem, de publicarem o que querem ver publicado, e que provavelmente não se enquadraria em qualquer outro meio de comunicação.
O nosso Blog serve para registrar o desenvolvimento de vários processos (nosso trabalho na Internet Livre, a memória da Sala, o andamento das oficinas, etc.), e, principalmente, para fazer ouvir uma voz (ou várias vozes) que não teriam a possibilidade de se expressarem em qualquer outro meio.
Os retrógrados (que ainda estão com a cabeça no século 18 e 19) dizem que o Blog (que é uma invenção do século 20) é coisa para quem não tem o que fazer. Nós discordamos plenamente.
Blog é uma importante ferramenta para quem tem o que fazer e mostrar.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Curumim tem Blog
Hoje nós fizemos o Blog do Curumim. Eles escolheram o endereço e a cor da página.
Vale a pena dar uma conferida: http://turma-curumim.zip.net/
Vale a pena dar uma conferida: http://turma-curumim.zip.net/
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Marcelo Montenegro, ele vem aí (Sou Contra)
Marcelo Montenegro é poeta, editor de vídeo e membro do grupo de teatro Cemitério de Automóveis.
Além disso ele tem vídeos (todos curtos), segue uma mini ficha-técnica de cada:
Além disso ele tem vídeos (todos curtos), segue uma mini ficha-técnica de cada:
"Melodrama Blues", poema de Marcelo Montenegro (falado pelo próprio) e música de Fábio Brum. Direção de Robson Timóteo.
"Um trago com Deus", videoclip da banda Cuelho de Alice, projeto paralelo de Paulão de Carvalho, líder da Velhas Virgens, uma das mais vigorosas bandas independentes do país. Direção de Mário Bortolotto, fotografia de Edson Kumasaka e edição de Marcelo Montenegro.
"Batelaje" ou "Ruas de São Miguel", videoclips de Edvaldo Santana dos quais fez o roteiro e co-dirigiu. Batelaje (Direção: Robson Timóteo, Marcelo Montenegro, Álvaro Perrone e Albert Klinke); Ruas de São Miguel (Direção: Robson Timóteo, Marcelo Montenegro e Walter Figueiredo).
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Cine Tamaru
Olha aí o vídeo do Cine Tamaru Site: http://br.youtube.com/watch?v=qb0Pgf6BQng
Esse vídeo não é o curta, é a gravação da primeira exibição do filme, com o pessoal na Sala.
Esse vídeo não é o curta, é a gravação da primeira exibição do filme, com o pessoal na Sala.
domingo, 21 de outubro de 2007
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Documentário da Sala da Internet Livre
Colocamos o vídeo que documenta a história das pessoas que frequentam a Sala da Internet Livre do SESC Santo André.
Passam, em média, 8 mil pessoas por mês na Sala.
Vale a pena assistir: http://br.youtube.com/watch?v=GJzfM4n832w
Nílson Primitivo, ele vem aí (SOU CONTRA)
A Vida Como ela Erra
Nilson Primitivo por Marcelo Montenegro
Pegamos um táxi na rodoviária e confesso que sempre sinto um frio na barriga quando ele rasga a Barata Ribeiro. É aí que a história começa. O Cemitério de Automóveis – grupo que trabalho como operador de luz e sonoplastia – chegando para uma mostra de repertório no teatro Ziembinski, na Tijuca, a convite dos amigos Roberto Alvim e Luciana Borghi. Nesta primeira leva estávamos eu, o ator e dramaturgo Mário Bortolotto, o cenotécnico e poliglota Régis Santos e o ator e cenógrafo Gabriel Pinheiro. A produção incluía hotel em Botafogo e um ap em Copacabana, para onde o táxi nos levava.
A primeira coisa que me chama a atenção é um distintivo do Santos na janela da sala, que, de lambuja, do alto do 10 º andar, enquadra o Bairro Peixoto embaixo e o Cristo à esquerda. Quem mora ali é um tal de Nilson Primitivo, Primitivo Gonzáles ou simplesmente Nilsão. Somos apresentados e fico sabendo que além de santista, ele nasceu – embora carioca – na cidade de Santos. Brother do Roberto e da Luciana, tinha alugado o ap para a produção e passaria o mês na casa da namorada – o que não aconteceu, já que alguns dias depois ele meio que brigou com ela e voltou perguntando se dava pra ficar lá, quer dizer, na casa dele.
“Tinha um cara onde eu trabalhava que usava muito efeito, sabe essas coisas de casamento, fusão, aquela breguice? Todo mundo que trabalhou com ele na época ficou traumatizado. Primitivo vem daí. É apelido de ilha mesmo. Eu não conseguia dar fade. Porra. Dez anos de profissão e nunca dei um fade. É tudo corte seco”.
Filme Livre
Realizada entre setembro e outubro de 2006, a última edição da Mostra do Filme Livre, que rola anualmente no Festival do Rio, programou diversos filmes do Nilsão. A homenagem se deu dentro do panorama “Cinema em Transe (Sessão Imprópria)”, dedicado a experimentos radicais de linguagem, ao lado de trabalhos de Jean Genet e John Lennon/Yoko Ono. Em maio de 2007, a Cinemateca Brasileira, em SP, exibiu uma retrospectiva completa do cineasta.
“Fiquei 7 anos fazendo filme e não passava em lugar nenhum, nem nos festivais com categoria experimental. Acho que botavam e tiravam rápido a fita com medo que ela fosse estragar o vídeo-cassete, não acreditavam que os filmes eram assim mesmo”, ri Nilsão, que logo mais deve cair pra Salvador – “o pior é que nêgo conhece não sei como” – onde também será exibido um apanhado da sua obra, composta até agora por 11 curtas. Sem contar o documentário Ventura e os videoclips das músicas “Vento” e “Sentimental”, dos Los Hermanos, com quem convive e trabalha há bastante tempo, seja na “estiva”, como ele diz, seja filmando. Recentemente registrou os últimos shows da banda, que anunciou uma parada, na Fundição Progresso.
Salve Jece Valadão
A Luciana Borghi já tinha dado a ficha do cara. Puta figura, conhecido no underground carioca, faz uns filmes malucos. Eu e o Marião rimos do título de um – Tesão em Saquarema – e naquela manhã em que chegamos, no primeiro usufruto do banheiro do ap – que viria a ser minha casa, do Régis e do ator Wilton Andrade durante um mês – dou de cara com uma foto da Lady Francisco e do Jorge Dória grudada no azulejo. Ela toda gostosa numa poltrona e ele em pé, olhando pra ela, com cara de babaca, uma pastinha embaixo do braço. Atrás dele, na parede, tinha um quadro, pouco acima da sua cabeça, com aquela imagem clássica do Churchill fazendo o V da vitória. Muito bom. Fico sabendo depois se tratar de um still de um filme do Vitor di Mello feito nos anos 70.
Conversava ontem à tarde com o Nilsão – estamos agora num boteco em São Paulo, dois anos depois dessa temporada carioca – sobre como foi sua participação no filme novo do José Mojica Marins. Numa analogia ao Glauber, que fez o mesmo com o Di Cavalcanti, falei que o fato dele ter filmado o velório do Jece Valadão – que era ator no filme – dizia muito do seu cinema. Assim como aquela foto do Churchill botando um chifre no Jorge Dória. “É, sem querer, acaba ficando um comentário”.
Deslizamento de câmera
Nilsão só filma em 16mm, com sobras de rolos vencidos, numa Bolex a manivela, usada na Segunda Guerra Mundial pelo avô do amigo Daniel Zarvos, fotógrafo do seu primeiro filme. “É minha bitola. Eu acho bonita essa textura meio sujona de fanzine, xerox, giz de cera. E comunica na forma a mesma coisa que quero comunicar no conteúdo. Outra coisa interessante da Bolex é que você vê uma coisa no visor e ela filma mais do que você está vendo. Então a linguagem não é do fotógrafo. É da câmera. Tem que abstrair completamente. É uma entrega”.
Still de Mais Velho
As primeiras revelações eram todas feitas em uma banheira. “Depois evoluí prum tupperware. Os negativos também são dados. Eu acabo gastando pouco, é uma coisa meio suburbana mesmo, tipo empinar pipa. Pra ter uma cópia, pego carona na telecinagem de algum filme de amigo, ou filmo direto da parede”. Pergunto da vez em que o técnico do laboratório disse que os rolos que ele tinha mandado revelar estavam estragados. “Já aconteceu mais de uma vez. Numa delas, o cara tava me explicando no telefone que deu deslizamento de câmera, que nem ia cobrar e tal. E eu tentando esconder a excitação, porra, ‘deslizamento de câmera’, já gostei só de ouvir o nome”.
Quando sai pra filmar, já filma montando. “O que aparecer apareceu. Até porque o mais legal disso é que é quase um jogo. É meio pra ver o que acontece. Lógico que sei o que eu gosto, a gente conversa antes do figurino e de coisas que me interessam, mas sempre sai muito diferente. E já fico prevendo esse diferente. De ficar com cor, de ficar um lado mais revelado que o outro. Eu assumo tudo e espero não ser preso por isso. Até porque eu gosto de assumir essa dificuldade. Acho que a partir do momento em que assume sua fraqueza, você acaba transcendendo ela. Você não fica resistindo à própria fragilidade. Por outro lado, não deixa de ser uma técnica também”.
A encarnação do demônio
Crounel Marins, filho de Mojica, no Diário das filmagens de A Encarnação do Demônio - volta do personagem Zé do Caixão depois de quase 30 anos longe das telas - escreveu:
“Foi proposta uma seqüência que necessitava de apenas mais um ator, que interpretaria o prisioneiro tatuado morto por Zé do Caixão e que vem assombrar o funerário. Tentamos contatar o ator já escolhido para o papel, mas não foi possível. De repente, o Paulo teve uma daquelas idéias que só a pressão faz surgir. Lembrando que neste filme contamos, por vários dias, com a presença do cineasta experimental Nilson Primitivo, que tomou imagens em 16 mm para um documentário, resolveu convidá-lo às pressas para o papel. Ele era imponente, quase 1,90, e tinha muitas tatuagens pelo corpo. Mas, como chegar para alguém numa noite de sábado chuvosa e propor algo como: “Você quer filmar hoje com o Zé do Caixão? Teremos apenas que pintar seu corpo inteiro, usar uma maquiagem que só sairá totalmente em alguns dias, deixá-lo careca e trancá-lo por algum tempo em um caixão”. Foi mais ou menos desta forma que o Sacramento abordou o Nilson pelo celular. A resposta, imediata, foi antológica: “E eu tenho que pagar quanto?”. “
“Fiquei sabendo que ele tava fazendo teste de elenco. Um monte de gente veio me falar e pensei, pô, será que eu tenho cara de figurante de filme do Zé do Caixão? Eu não sabia se ficava lisonjeado ou se mandava à merda. Na dúvida eu fazia os dois, vai tomar no cu, muito obrigado, me dá o endereço”.
“Eu tinha três rolinhos sem referência nenhuma, não sabia se era preto e branco, que asa era, falei foda-se. Vou sentar o dedo. Falei com o Paulo Sacramento, ele me arrumou mais negativos e disse que eu tinha liberdade pra fazer o que quiser. Uma vez, tava no meio das filmagens e tive que trocar rapidão o rolo da Bolex. Quando fui ver, eu tinha posto o filme ao contrário. Aí o Mojica passou por mim bem na hora que percebi a cagada. Eu devia estar com uma puta cara de bunda. Ele perguntou o que era e expliquei. Aí ele falou, dá um efeito interessante, já aconteceu comigo”.
Comício de Tudo
Lembro da gente conversando durante um chope na Adega Pérola, ao lado do ap do Nilsão e do que um dia foi o Teatro Opinião. Ele dizendo que achava A Idade da Terra, do Glauber Rocha, do caralho e eu o contrário. Ficamos amigos de cara e assim que se mudou para São Paulo – pouco depois desse tempo que convivemos no Rio – fizemos um trabalho juntos. Ele acabara de telecinar umas imagens e queria trabalhar nelas.
“Tem um lugar que vamos eu mais um amigo, tipo como madames vão ao shopping, que é o Centro dos Catadores de Lixo de Copacabana. Tudo que eles acham de interessante no lixo eles expõem num bazar. Aí tinham lá umas latas de 16 mm que eu acabei comprando por 1 real, umas imagens do caralho, feitas no interior da Bahia em 1927, uma cidade que meio que tá construindo uma ponte, tem uns cangaceiros, umas mulheres lavando roupa no rio”.
Além das imagens – realmente incríveis – que o maluco do Nilsão salvara da extinção, minha primeira surpresa é que, a não ser pela inclusão, em GC, de alguns fragmentos de coisas que estava lendo na época – Marcelo Mirisola, Thomas Bernhard, Strindberg (“não há duvida que eu sei ressuscitar os mortos”) – ele não mexeria nas imagens. Elas permaneceriam intactas, do jeito que sabe lá quem, há 80 anos, registrou aquilo. Todo trabalho então se daria no som. Nilsão chegou com uma disqueteira lotada de CDRs. Acontece que lá pelo meio do filme meu computador não conseguiu ler uma das faixas. Após várias tentativas, todas frustradas, ele disse: “Deixa pra lá, é melhor respeitar essas macumbas de edição”, enquanto revirava a disqueteira em busca de outra coisa. Pergunto se tem alguma idéia de título e ele diz que está em dúvida entre A vida como ela erra e Outubro 1927 – que é exatamente o que estava escrito nas latas.
“Se não estiver atento com o imprevisto, com o que está acontecendo na hora, você deixa passar a coisa mais importante. Na minha perspectiva, quando você quer o efeito e vai atrás dele eu acho menor do que você não planejar, ele acontecer e você aproveitá-lo. Quando consegui revelar as imagens do Tesão em Saquarema, por exemplo. Eu tinha um monitor velho em casa que era só ligar e entravam umas interferências da TV. Só que na hora que botei a fita, o áudio da interferência começou a bater perfeitamente com as imagens. Um absurdo. Apertei o rec na hora. Tá lá no filme até hoje”.
O áudio é ponto preponderante do seu trabalho. Lascas de música – muitas de amigos seus, músicos experimentais –, frases que curtiu em livros e esguichos de papos ouvidos na rua – que ele anota e depois chama os atores ou ele mesmo pra ler num gravador –, são editados anarquicamente como uma espécie de comício de tudo – falaê Chacal. Como não usa som direto, aproveita ainda pra sabotar uma das maiores obsessões dos editores normais: o sink. Faz questão de dublar uma fala totalmente diversa da que os movimentos da boca do ator ou atriz sugerem. Quando não bota alguém pra dizer frases de Foucalt ou Lewis Carrol com voz caricata e debochada de malandro carioca.
“Tá tudo muito limpinho. Precisamos do defeito”.
“Eu gosto do Ozualdo Candeias, do Seijun Suzuki, do Mojica, dos filmes do Pasolini. Acho que o último brasileiro que gostei mesmo foi o Brás Cubas, do Júlio Bressane. Numa aproximação estética e existencial óbvia, cito Ivan Cardoso e Jairo Ferreira. “Gosto das primeiras coisas do Ivan. E sou amarradão nos textos do Jairo; íntegro pra caralho”.
“Outro dia escutei um rabicho de conversa. Depois, um rabicho de áudio no rádio. E formei uma frase: Atravessando o deserto dos caminhos, um grito abandonou meu peito. E pensei porra, é lindo! Mas não era nada disso. Eu escutei meio errado. Era atravessando outra coisa dos caminhos, era outra coisa que abandonou o peito. O que eu quero dizer é que de uma certa maneira fui eu que fiz, mas não fui eu que fiz, sacou? Não tem nada original meu, não tive uma idéia e falei assim, vou escrever uma frase genial”.
Cena de Império das Pelúcias
“O problema da internet é que é meio frustrante nêgo achar que já viu o trabalho e não gostar tanto como poderia se tivesse visto bem exibido. Não é frescura, problema do site nem nada. É que meus filmes já trabalham muito no limite do ruído total. Mas de qualquer forma tá rodando, é bom”.
“O Rodrigo Amarante participou como ator e fez quase todos os filmes comigo. É um parceirão. Muitos textos são dele mesmo, feitos na hora, de improviso. O clip da música “Sentimental” [que foi recusado pela MTV] é um roteiro dele para um curta-metragem. E tive a honra também de apresentar algumas coisas do Erasmo pro Camelo. Eu falava porra, isso aqui tem a sua cara, aquele disco Sonhos e Memórias, manja?, tem uma música que é “Sábado Morto”, não, essa é do Carlos, Erasmo, enfim... há pouco tempo eles me chamaram, ‘vamos com a gente lá no estúdio, nós vamos gravar um negócio’. Aí chego lá e tá o Erasmo Carlos, me apresentaram pra ele... Eles tavam participando desse disco novo, de parcerias, e cantaram justamente “Sábado Morto”.”
“Meus filmes tem um lance que é o seguinte. Se você assistir apenas a imagem e desligar o som, como se fosse um filme mudo, ou então só escutar o som como se fosse uma rádio-novela, fica mais inteligível. Os dois juntos às vezes se atrapalham, embora um seja a alegoria do outro”.
“Uma das melhores críticas que recebi foi de um cara que chegou pra mim e falou: O Bandido da Luz Vermelha é um filme legal. Seu filme não é legal”. “Na Europa fui meio mendigo mesmo. Pô... nunca fui tão playboy na minha vida. Tinha dinheiro pra beber, comprar cigarro, putaqueopariu. Ganhava um almoço aqui, um lanche lá, uma laranja pra de tarde. Conheci uns italianos que tocavam bossa nova, fiquei amigo deles e como não sabia tocar nada eu corria o chapéu com nariz de palhaço. Em Cádiz, que é uma cidade fenícia, maluca pra caramba, eu dormia às vezes embaixo de um barco, num saco de dormir. De vez em quando eu ajudava o pescador a limpar a rede, que é um troço chato de fazer, rolava uns peixes”. “Na Mostra do Filme Livre veio um cara me dizer que o que eu faço não é cinema. Porra, graças a Deus. Tô achando o cinema chato pra caralho, não vejo um filme bom há 30 anos. Agora cá entre nós, como é que um hippie da gestapo vem falar um troço desses? Não eram vocês que acreditavam em contracultura e o cacete? Aliás, pra mim não existe esse papo de contracultura. Qualquer arte sempre foi contracultura. Se não, não adianta nada. Não vai problematizar, não vai te trazer dúvida nenhuma, vai ficar ali, pintando natureza morta. Então, nêgo vê meu filme, é simples: pode gostar ou não gostar. Eu não sou acadêmico, eu não sou porra nenhuma. Eu gosto. Entendeu? É coisa de relojoeiro, igual ter um fusquinha 56, gostar de kharmanguia”.
Subsolo
É quando você se depara com uma complexidade artística que é quase um desaforo. Nilsão é uma espécie improvável de “homem direto” – vide Dostoievski, Memórias do Subsolo – que cria. Seus filmes, para usar um clichê semiótico, são “novos objetos no mundo”. Definições como “eutanásia audiovisual” e “maoísmo fantástico”; os grafismos e hematomas que brotam da tela, oriundos do uso de rolos vencidos, somados à disponibilidade existencial para o imprevisto e à adulteração do áudio como campo de guerrilha, criam um universo estranho, anacrônico, escroto, onírico e arruaceiro que só a capacidade de um criador em inventar e habitar sua própria cidade fantasma – alguns chamariam de cosmogonia – tem a manha de nos mostrar.
Ao mesmo tempo fico pensando que isso é quase uma sacanagem – “mais forte são os poderes do podre, Marcelão” – em cima do trabalho de um cara anti-intelectual e anti-institucional por excelência. Tem uma frase do Buñuel que é mais ou menos assim: “Desvendar um mistério é como violar uma criança”. E um lance do Kerouac: “a única coisa que tenho pra oferecer ao mundo é minha confusão”. De modo que no final das contas é melhor ficar com a palavra do próprio autor sobre sua obra: “É uma linha muito tênue entre alguém chegar e falar ‘isso aí não é porra nenhuma’”.
Artista é o c...
“Eu sou apaixonadão por São Paulo. Uma das paradas que eu mais me identifico são os pixadores. Eles criaram várias fontes que eu acho bonitas pra caramba, originais, clássicas, da maneira deles. E eles tão aí, se comunicando. Não tem autor, vaidade, não passa por curadorias, interesses, dinheiro do Estado, não tem elite nenhuma no meio carimbando o que é bom e o que não é. Porque na verdade nêgo é covarde. Aceitaram a privada do Duchamp, que era francês, descendente de aristocrata, o Hélio Oiticica botou lá o “Seja marginal seja herói”, aí um cara do funk chega e fala “mete bala na cabeça da PM” e é preso. Qual é? O cara pode ser radical pra caralho, mas tem que vir do Country Club? Acho um puta retrocesso democrático. Porque na real esse país é estratificado pra cacete. Pega o Johnny Cash, “matei um homem só pra ver ele morrer”. Porra, não pode falar? Não adianta proibir uma pessoa de falar porque ela vai continuar sentindo. Tem que tratar com mais inteligência. Saber que tudo é passível de crítica. Tanto tudo que eu tô falando como tudo que todo mundo já falou até hoje”.
Império das Pelúcias
Gru é o nome de um dos personagens de A Frente Fria que a Chuva traz, de Mário Bortolotto, espetáculo que rolou naquela mostra do Cemitério de Automóveis no Rio de Janeiro, em 2005. Interpretado por Wilton Andrade, numa descrição simplificada seria um primata encravado no meio dos playboys e patricinhas que circulam pela peça. “Gru: puta nome de personagem” – lembro da gente, rindo, eu, Wiltão e ele, numa caminhada pela Atlântica até um mergulho no Arpoador. “Porra, Wiltão, eu sou totalmente Gru. E o Marião só criou esse personagem porque ele também é”.
Daí que Gru pelo Nilsão acabou virando uma categoria humana – “engraçado que meus amigos, os caras que eu gosto, não são gente fina”. Virou também o título do primeiro filme que rodou quando se mudou pra São Paulo, com os próprios Wiltão e Bortolotto em cena. “Eu morei ali na rua Aurora com Vitória e Guaianases que é um autêntico Triângulo das Bermudas. A zona, a boca e a delegacia convivendo harmonicamente com Igreja Evangélica, africanos, uma porrada de ciganos. E o Gru é meio que um documentário desses meus primeiros meses em São Paulo, filmado na praça Roosevelt”.
Vou reproduzir um trecho de um depoimento do Nilsão ao Thiago Camelo – que é irmão do Marcelo, do Los Hermanos – para o site Overmundo. Em determinado momento, o Thiago se pergunta: “com tantos filmes experimentais, que mal passam no cinema, como esse cara vive, dá pra ganhar dinheiro com o que faz?”.
Resposta: “Se eu fosse outra pessoa, sim. Mas do jeito que eu sou, não. Mas também não estou muito preocupado com isso. Trabalho é uma coisa que a gente troca por dinheiro. Pra pagar o condomínio. Aqui, você está tentando descobrir por uma investigação científica um desespero seu, sabe? Acho que quem ganha dinheiro é quem chega em casa, janta, vê um jornalzinho, vai pra cama e dorme”.
Atualmente Nilsão está sem residência fixa – entre São Paulo, Curitiba e Rio – trabalhando “na estiva” de um curta-metragem da produtora de uma amiga. Há um ano, num dos nossos primeiros encontros desde que ele tinha se mudado para São Paulo, estava pintando o apartamento de uma conhecida. No Rio, a atividade mais duradoura foi como motorista de táxi. No mais, passeios com cachorros, consertos de máquinas de lavar e bicos esdrúxulos como sublocar o ap a um grupo de teatro completavam o pagamento do aluguel. “É menos chato. Você tem uma relação mais lúdica com a coisa. Não fica querendo pagar o condomínio através daquilo”.
Caras como o Primitivo fizeram “uma escolha existencial errada”, diz o pesquisador e amigo Remier, citando a música “Artista é o caralho”, do Rubinho Jacobina. Quando nos encontramos para este papo, em frente ao Centro Cultural São Paulo, ele me perguntou quem era o figura que tinha me abordado, antes de entrarmos no bar. Era o Flávio, um doido que mora ali pela rua e trabalha guardando os carros. “Tem uns malucos que não precisam ler livro nenhum. Eles mesmos já são os próprios livros”.
Basta conversar um pouco com o Nilsão – ele próprio, um filme de si mesmo – para eliminar qualquer leitura romantizada e pré-concebida do tipo “cineasta-marginal-injustiçado”. Nilsão é um outsider – e “o problema do outsider é essencialmente um problema a ser vivido; escrever sobre ele em termos de literatura é falsificá-lo” (Colin Wilson). A idéia acima é complementada no nosso papo: “Não sou contra conseguir grana. Porra, é ótimo. Mas se não conseguir, vai lá e faz também. Porque não é por vaidade, nem pra fazer carreira. Acaba até virando, mas os motivos são outros. Angústia mesmo. É coisa de quem não consegue dormir direito à noite, sabe como é?”.
FILMES DO NILSÃO DISPONÍVEIS NA INTERNET
Disponíveis no site Porta-Curtas:
Mais Velho, Idade da Pedra, O Crack do Futuro, Tesão em Saquarema, Império das Pelúcias, O Exu do Amor e Gru.
Link: http://www.portacurtas.com.br/buscaficha.asp?Diret=22503
Disponível no site Curta o Curta:
Entrevista com Primitivo Gonzáles – Direção: Christian Caselli – Cor – 6´ Nilson Primitivo, que na Mostra do Filme Livre 2006 ganhou uma retrospectiva completa de sua obra de 7 filmes realizados em 16mm nos últimos 5 anos, fala um pouco sobre patologias e telepatias que dançam na liberdade criativa de fazer arte e não apenas ciência ao mesmo tempo que o sink perde-se para dar lugar a novos sentimentos nem sempre lógicos e/ou aflitos inclusive.
Link: http://www.curtaocurta.com.br/exibe_filme.php?a=106&c=151
“DESCONJUNTO DA OBRA” DE NILSON PRIMITIVO:
Mais Velho (Rio de Janeiro, 2000, 16mm, pb, 14’)
Tesão em Saquarema (Rio de Janeiro, 2001/2006, 16mm, pb, 8’)
O Exu do Amor (Rio de Janeiro, 2001, 16mm, cor, 2’)
Idade da Pedra (Rio de Janeiro, 2002, 16mm, cor, 5’)
Duelo das Loiras (Rio de Janeiro, 2002, 16mm, cor, 8’)
Dez pro Inferno (Rio de Janeiro, 2004, 16mm, pb, 2’)
O Craque do Futuro (Rio de Janeiro, 2005, 16mm, cor, 5’)
Império das Pelúcias (Rio de Janeiro, 2005, 16mm, cor, 7’)
Gru (São Paulo, 2006, 16mm, pb, 8’)
Alerta aos Carcereiros (São Paulo, 2007, 16mm, pb, 4’)
Quando a Verdade Vai Entrando ou Carta aos Cegos (Para Aqueles que Sabem Ouvir e Falar) (São Paulo, 2007, 16mm, cor/pb, 2’)
TRABALHOS COM OS LOS HERMANOS:
Documentário:
Ventura (2004, 52´) - Direção de Nilson Primitivo e Sérgio Lutz Barbosa. Road movie experimental com o grupo Los Hermanos e seus fãs através do Brasil.
Videoclipes:
Sentimental– (2001) - Direção: Nilson Primitivo – Roteiro: Rodrigo Amarante O Vento – (2005) -Direção: Nilson Primitivo
Texto publicado em: http://www.revistaetcetera.com.br
Nilson Primitivo por Marcelo Montenegro
Pegamos um táxi na rodoviária e confesso que sempre sinto um frio na barriga quando ele rasga a Barata Ribeiro. É aí que a história começa. O Cemitério de Automóveis – grupo que trabalho como operador de luz e sonoplastia – chegando para uma mostra de repertório no teatro Ziembinski, na Tijuca, a convite dos amigos Roberto Alvim e Luciana Borghi. Nesta primeira leva estávamos eu, o ator e dramaturgo Mário Bortolotto, o cenotécnico e poliglota Régis Santos e o ator e cenógrafo Gabriel Pinheiro. A produção incluía hotel em Botafogo e um ap em Copacabana, para onde o táxi nos levava.
A primeira coisa que me chama a atenção é um distintivo do Santos na janela da sala, que, de lambuja, do alto do 10 º andar, enquadra o Bairro Peixoto embaixo e o Cristo à esquerda. Quem mora ali é um tal de Nilson Primitivo, Primitivo Gonzáles ou simplesmente Nilsão. Somos apresentados e fico sabendo que além de santista, ele nasceu – embora carioca – na cidade de Santos. Brother do Roberto e da Luciana, tinha alugado o ap para a produção e passaria o mês na casa da namorada – o que não aconteceu, já que alguns dias depois ele meio que brigou com ela e voltou perguntando se dava pra ficar lá, quer dizer, na casa dele.
“Tinha um cara onde eu trabalhava que usava muito efeito, sabe essas coisas de casamento, fusão, aquela breguice? Todo mundo que trabalhou com ele na época ficou traumatizado. Primitivo vem daí. É apelido de ilha mesmo. Eu não conseguia dar fade. Porra. Dez anos de profissão e nunca dei um fade. É tudo corte seco”.
Filme Livre
Realizada entre setembro e outubro de 2006, a última edição da Mostra do Filme Livre, que rola anualmente no Festival do Rio, programou diversos filmes do Nilsão. A homenagem se deu dentro do panorama “Cinema em Transe (Sessão Imprópria)”, dedicado a experimentos radicais de linguagem, ao lado de trabalhos de Jean Genet e John Lennon/Yoko Ono. Em maio de 2007, a Cinemateca Brasileira, em SP, exibiu uma retrospectiva completa do cineasta.
“Fiquei 7 anos fazendo filme e não passava em lugar nenhum, nem nos festivais com categoria experimental. Acho que botavam e tiravam rápido a fita com medo que ela fosse estragar o vídeo-cassete, não acreditavam que os filmes eram assim mesmo”, ri Nilsão, que logo mais deve cair pra Salvador – “o pior é que nêgo conhece não sei como” – onde também será exibido um apanhado da sua obra, composta até agora por 11 curtas. Sem contar o documentário Ventura e os videoclips das músicas “Vento” e “Sentimental”, dos Los Hermanos, com quem convive e trabalha há bastante tempo, seja na “estiva”, como ele diz, seja filmando. Recentemente registrou os últimos shows da banda, que anunciou uma parada, na Fundição Progresso.
Salve Jece Valadão
A Luciana Borghi já tinha dado a ficha do cara. Puta figura, conhecido no underground carioca, faz uns filmes malucos. Eu e o Marião rimos do título de um – Tesão em Saquarema – e naquela manhã em que chegamos, no primeiro usufruto do banheiro do ap – que viria a ser minha casa, do Régis e do ator Wilton Andrade durante um mês – dou de cara com uma foto da Lady Francisco e do Jorge Dória grudada no azulejo. Ela toda gostosa numa poltrona e ele em pé, olhando pra ela, com cara de babaca, uma pastinha embaixo do braço. Atrás dele, na parede, tinha um quadro, pouco acima da sua cabeça, com aquela imagem clássica do Churchill fazendo o V da vitória. Muito bom. Fico sabendo depois se tratar de um still de um filme do Vitor di Mello feito nos anos 70.
Conversava ontem à tarde com o Nilsão – estamos agora num boteco em São Paulo, dois anos depois dessa temporada carioca – sobre como foi sua participação no filme novo do José Mojica Marins. Numa analogia ao Glauber, que fez o mesmo com o Di Cavalcanti, falei que o fato dele ter filmado o velório do Jece Valadão – que era ator no filme – dizia muito do seu cinema. Assim como aquela foto do Churchill botando um chifre no Jorge Dória. “É, sem querer, acaba ficando um comentário”.
Deslizamento de câmera
Nilsão só filma em 16mm, com sobras de rolos vencidos, numa Bolex a manivela, usada na Segunda Guerra Mundial pelo avô do amigo Daniel Zarvos, fotógrafo do seu primeiro filme. “É minha bitola. Eu acho bonita essa textura meio sujona de fanzine, xerox, giz de cera. E comunica na forma a mesma coisa que quero comunicar no conteúdo. Outra coisa interessante da Bolex é que você vê uma coisa no visor e ela filma mais do que você está vendo. Então a linguagem não é do fotógrafo. É da câmera. Tem que abstrair completamente. É uma entrega”.
Still de Mais Velho
As primeiras revelações eram todas feitas em uma banheira. “Depois evoluí prum tupperware. Os negativos também são dados. Eu acabo gastando pouco, é uma coisa meio suburbana mesmo, tipo empinar pipa. Pra ter uma cópia, pego carona na telecinagem de algum filme de amigo, ou filmo direto da parede”. Pergunto da vez em que o técnico do laboratório disse que os rolos que ele tinha mandado revelar estavam estragados. “Já aconteceu mais de uma vez. Numa delas, o cara tava me explicando no telefone que deu deslizamento de câmera, que nem ia cobrar e tal. E eu tentando esconder a excitação, porra, ‘deslizamento de câmera’, já gostei só de ouvir o nome”.
Quando sai pra filmar, já filma montando. “O que aparecer apareceu. Até porque o mais legal disso é que é quase um jogo. É meio pra ver o que acontece. Lógico que sei o que eu gosto, a gente conversa antes do figurino e de coisas que me interessam, mas sempre sai muito diferente. E já fico prevendo esse diferente. De ficar com cor, de ficar um lado mais revelado que o outro. Eu assumo tudo e espero não ser preso por isso. Até porque eu gosto de assumir essa dificuldade. Acho que a partir do momento em que assume sua fraqueza, você acaba transcendendo ela. Você não fica resistindo à própria fragilidade. Por outro lado, não deixa de ser uma técnica também”.
A encarnação do demônio
Crounel Marins, filho de Mojica, no Diário das filmagens de A Encarnação do Demônio - volta do personagem Zé do Caixão depois de quase 30 anos longe das telas - escreveu:
“Foi proposta uma seqüência que necessitava de apenas mais um ator, que interpretaria o prisioneiro tatuado morto por Zé do Caixão e que vem assombrar o funerário. Tentamos contatar o ator já escolhido para o papel, mas não foi possível. De repente, o Paulo teve uma daquelas idéias que só a pressão faz surgir. Lembrando que neste filme contamos, por vários dias, com a presença do cineasta experimental Nilson Primitivo, que tomou imagens em 16 mm para um documentário, resolveu convidá-lo às pressas para o papel. Ele era imponente, quase 1,90, e tinha muitas tatuagens pelo corpo. Mas, como chegar para alguém numa noite de sábado chuvosa e propor algo como: “Você quer filmar hoje com o Zé do Caixão? Teremos apenas que pintar seu corpo inteiro, usar uma maquiagem que só sairá totalmente em alguns dias, deixá-lo careca e trancá-lo por algum tempo em um caixão”. Foi mais ou menos desta forma que o Sacramento abordou o Nilson pelo celular. A resposta, imediata, foi antológica: “E eu tenho que pagar quanto?”. “
“Fiquei sabendo que ele tava fazendo teste de elenco. Um monte de gente veio me falar e pensei, pô, será que eu tenho cara de figurante de filme do Zé do Caixão? Eu não sabia se ficava lisonjeado ou se mandava à merda. Na dúvida eu fazia os dois, vai tomar no cu, muito obrigado, me dá o endereço”.
“Eu tinha três rolinhos sem referência nenhuma, não sabia se era preto e branco, que asa era, falei foda-se. Vou sentar o dedo. Falei com o Paulo Sacramento, ele me arrumou mais negativos e disse que eu tinha liberdade pra fazer o que quiser. Uma vez, tava no meio das filmagens e tive que trocar rapidão o rolo da Bolex. Quando fui ver, eu tinha posto o filme ao contrário. Aí o Mojica passou por mim bem na hora que percebi a cagada. Eu devia estar com uma puta cara de bunda. Ele perguntou o que era e expliquei. Aí ele falou, dá um efeito interessante, já aconteceu comigo”.
Comício de Tudo
Lembro da gente conversando durante um chope na Adega Pérola, ao lado do ap do Nilsão e do que um dia foi o Teatro Opinião. Ele dizendo que achava A Idade da Terra, do Glauber Rocha, do caralho e eu o contrário. Ficamos amigos de cara e assim que se mudou para São Paulo – pouco depois desse tempo que convivemos no Rio – fizemos um trabalho juntos. Ele acabara de telecinar umas imagens e queria trabalhar nelas.
“Tem um lugar que vamos eu mais um amigo, tipo como madames vão ao shopping, que é o Centro dos Catadores de Lixo de Copacabana. Tudo que eles acham de interessante no lixo eles expõem num bazar. Aí tinham lá umas latas de 16 mm que eu acabei comprando por 1 real, umas imagens do caralho, feitas no interior da Bahia em 1927, uma cidade que meio que tá construindo uma ponte, tem uns cangaceiros, umas mulheres lavando roupa no rio”.
Além das imagens – realmente incríveis – que o maluco do Nilsão salvara da extinção, minha primeira surpresa é que, a não ser pela inclusão, em GC, de alguns fragmentos de coisas que estava lendo na época – Marcelo Mirisola, Thomas Bernhard, Strindberg (“não há duvida que eu sei ressuscitar os mortos”) – ele não mexeria nas imagens. Elas permaneceriam intactas, do jeito que sabe lá quem, há 80 anos, registrou aquilo. Todo trabalho então se daria no som. Nilsão chegou com uma disqueteira lotada de CDRs. Acontece que lá pelo meio do filme meu computador não conseguiu ler uma das faixas. Após várias tentativas, todas frustradas, ele disse: “Deixa pra lá, é melhor respeitar essas macumbas de edição”, enquanto revirava a disqueteira em busca de outra coisa. Pergunto se tem alguma idéia de título e ele diz que está em dúvida entre A vida como ela erra e Outubro 1927 – que é exatamente o que estava escrito nas latas.
“Se não estiver atento com o imprevisto, com o que está acontecendo na hora, você deixa passar a coisa mais importante. Na minha perspectiva, quando você quer o efeito e vai atrás dele eu acho menor do que você não planejar, ele acontecer e você aproveitá-lo. Quando consegui revelar as imagens do Tesão em Saquarema, por exemplo. Eu tinha um monitor velho em casa que era só ligar e entravam umas interferências da TV. Só que na hora que botei a fita, o áudio da interferência começou a bater perfeitamente com as imagens. Um absurdo. Apertei o rec na hora. Tá lá no filme até hoje”.
O áudio é ponto preponderante do seu trabalho. Lascas de música – muitas de amigos seus, músicos experimentais –, frases que curtiu em livros e esguichos de papos ouvidos na rua – que ele anota e depois chama os atores ou ele mesmo pra ler num gravador –, são editados anarquicamente como uma espécie de comício de tudo – falaê Chacal. Como não usa som direto, aproveita ainda pra sabotar uma das maiores obsessões dos editores normais: o sink. Faz questão de dublar uma fala totalmente diversa da que os movimentos da boca do ator ou atriz sugerem. Quando não bota alguém pra dizer frases de Foucalt ou Lewis Carrol com voz caricata e debochada de malandro carioca.
“Tá tudo muito limpinho. Precisamos do defeito”.
“Eu gosto do Ozualdo Candeias, do Seijun Suzuki, do Mojica, dos filmes do Pasolini. Acho que o último brasileiro que gostei mesmo foi o Brás Cubas, do Júlio Bressane. Numa aproximação estética e existencial óbvia, cito Ivan Cardoso e Jairo Ferreira. “Gosto das primeiras coisas do Ivan. E sou amarradão nos textos do Jairo; íntegro pra caralho”.
“Outro dia escutei um rabicho de conversa. Depois, um rabicho de áudio no rádio. E formei uma frase: Atravessando o deserto dos caminhos, um grito abandonou meu peito. E pensei porra, é lindo! Mas não era nada disso. Eu escutei meio errado. Era atravessando outra coisa dos caminhos, era outra coisa que abandonou o peito. O que eu quero dizer é que de uma certa maneira fui eu que fiz, mas não fui eu que fiz, sacou? Não tem nada original meu, não tive uma idéia e falei assim, vou escrever uma frase genial”.
Cena de Império das Pelúcias
“O problema da internet é que é meio frustrante nêgo achar que já viu o trabalho e não gostar tanto como poderia se tivesse visto bem exibido. Não é frescura, problema do site nem nada. É que meus filmes já trabalham muito no limite do ruído total. Mas de qualquer forma tá rodando, é bom”.
“O Rodrigo Amarante participou como ator e fez quase todos os filmes comigo. É um parceirão. Muitos textos são dele mesmo, feitos na hora, de improviso. O clip da música “Sentimental” [que foi recusado pela MTV] é um roteiro dele para um curta-metragem. E tive a honra também de apresentar algumas coisas do Erasmo pro Camelo. Eu falava porra, isso aqui tem a sua cara, aquele disco Sonhos e Memórias, manja?, tem uma música que é “Sábado Morto”, não, essa é do Carlos, Erasmo, enfim... há pouco tempo eles me chamaram, ‘vamos com a gente lá no estúdio, nós vamos gravar um negócio’. Aí chego lá e tá o Erasmo Carlos, me apresentaram pra ele... Eles tavam participando desse disco novo, de parcerias, e cantaram justamente “Sábado Morto”.”
“Meus filmes tem um lance que é o seguinte. Se você assistir apenas a imagem e desligar o som, como se fosse um filme mudo, ou então só escutar o som como se fosse uma rádio-novela, fica mais inteligível. Os dois juntos às vezes se atrapalham, embora um seja a alegoria do outro”.
“Uma das melhores críticas que recebi foi de um cara que chegou pra mim e falou: O Bandido da Luz Vermelha é um filme legal. Seu filme não é legal”. “Na Europa fui meio mendigo mesmo. Pô... nunca fui tão playboy na minha vida. Tinha dinheiro pra beber, comprar cigarro, putaqueopariu. Ganhava um almoço aqui, um lanche lá, uma laranja pra de tarde. Conheci uns italianos que tocavam bossa nova, fiquei amigo deles e como não sabia tocar nada eu corria o chapéu com nariz de palhaço. Em Cádiz, que é uma cidade fenícia, maluca pra caramba, eu dormia às vezes embaixo de um barco, num saco de dormir. De vez em quando eu ajudava o pescador a limpar a rede, que é um troço chato de fazer, rolava uns peixes”. “Na Mostra do Filme Livre veio um cara me dizer que o que eu faço não é cinema. Porra, graças a Deus. Tô achando o cinema chato pra caralho, não vejo um filme bom há 30 anos. Agora cá entre nós, como é que um hippie da gestapo vem falar um troço desses? Não eram vocês que acreditavam em contracultura e o cacete? Aliás, pra mim não existe esse papo de contracultura. Qualquer arte sempre foi contracultura. Se não, não adianta nada. Não vai problematizar, não vai te trazer dúvida nenhuma, vai ficar ali, pintando natureza morta. Então, nêgo vê meu filme, é simples: pode gostar ou não gostar. Eu não sou acadêmico, eu não sou porra nenhuma. Eu gosto. Entendeu? É coisa de relojoeiro, igual ter um fusquinha 56, gostar de kharmanguia”.
Subsolo
É quando você se depara com uma complexidade artística que é quase um desaforo. Nilsão é uma espécie improvável de “homem direto” – vide Dostoievski, Memórias do Subsolo – que cria. Seus filmes, para usar um clichê semiótico, são “novos objetos no mundo”. Definições como “eutanásia audiovisual” e “maoísmo fantástico”; os grafismos e hematomas que brotam da tela, oriundos do uso de rolos vencidos, somados à disponibilidade existencial para o imprevisto e à adulteração do áudio como campo de guerrilha, criam um universo estranho, anacrônico, escroto, onírico e arruaceiro que só a capacidade de um criador em inventar e habitar sua própria cidade fantasma – alguns chamariam de cosmogonia – tem a manha de nos mostrar.
Ao mesmo tempo fico pensando que isso é quase uma sacanagem – “mais forte são os poderes do podre, Marcelão” – em cima do trabalho de um cara anti-intelectual e anti-institucional por excelência. Tem uma frase do Buñuel que é mais ou menos assim: “Desvendar um mistério é como violar uma criança”. E um lance do Kerouac: “a única coisa que tenho pra oferecer ao mundo é minha confusão”. De modo que no final das contas é melhor ficar com a palavra do próprio autor sobre sua obra: “É uma linha muito tênue entre alguém chegar e falar ‘isso aí não é porra nenhuma’”.
Artista é o c...
“Eu sou apaixonadão por São Paulo. Uma das paradas que eu mais me identifico são os pixadores. Eles criaram várias fontes que eu acho bonitas pra caramba, originais, clássicas, da maneira deles. E eles tão aí, se comunicando. Não tem autor, vaidade, não passa por curadorias, interesses, dinheiro do Estado, não tem elite nenhuma no meio carimbando o que é bom e o que não é. Porque na verdade nêgo é covarde. Aceitaram a privada do Duchamp, que era francês, descendente de aristocrata, o Hélio Oiticica botou lá o “Seja marginal seja herói”, aí um cara do funk chega e fala “mete bala na cabeça da PM” e é preso. Qual é? O cara pode ser radical pra caralho, mas tem que vir do Country Club? Acho um puta retrocesso democrático. Porque na real esse país é estratificado pra cacete. Pega o Johnny Cash, “matei um homem só pra ver ele morrer”. Porra, não pode falar? Não adianta proibir uma pessoa de falar porque ela vai continuar sentindo. Tem que tratar com mais inteligência. Saber que tudo é passível de crítica. Tanto tudo que eu tô falando como tudo que todo mundo já falou até hoje”.
Império das Pelúcias
Gru é o nome de um dos personagens de A Frente Fria que a Chuva traz, de Mário Bortolotto, espetáculo que rolou naquela mostra do Cemitério de Automóveis no Rio de Janeiro, em 2005. Interpretado por Wilton Andrade, numa descrição simplificada seria um primata encravado no meio dos playboys e patricinhas que circulam pela peça. “Gru: puta nome de personagem” – lembro da gente, rindo, eu, Wiltão e ele, numa caminhada pela Atlântica até um mergulho no Arpoador. “Porra, Wiltão, eu sou totalmente Gru. E o Marião só criou esse personagem porque ele também é”.
Daí que Gru pelo Nilsão acabou virando uma categoria humana – “engraçado que meus amigos, os caras que eu gosto, não são gente fina”. Virou também o título do primeiro filme que rodou quando se mudou pra São Paulo, com os próprios Wiltão e Bortolotto em cena. “Eu morei ali na rua Aurora com Vitória e Guaianases que é um autêntico Triângulo das Bermudas. A zona, a boca e a delegacia convivendo harmonicamente com Igreja Evangélica, africanos, uma porrada de ciganos. E o Gru é meio que um documentário desses meus primeiros meses em São Paulo, filmado na praça Roosevelt”.
Vou reproduzir um trecho de um depoimento do Nilsão ao Thiago Camelo – que é irmão do Marcelo, do Los Hermanos – para o site Overmundo. Em determinado momento, o Thiago se pergunta: “com tantos filmes experimentais, que mal passam no cinema, como esse cara vive, dá pra ganhar dinheiro com o que faz?”.
Resposta: “Se eu fosse outra pessoa, sim. Mas do jeito que eu sou, não. Mas também não estou muito preocupado com isso. Trabalho é uma coisa que a gente troca por dinheiro. Pra pagar o condomínio. Aqui, você está tentando descobrir por uma investigação científica um desespero seu, sabe? Acho que quem ganha dinheiro é quem chega em casa, janta, vê um jornalzinho, vai pra cama e dorme”.
Atualmente Nilsão está sem residência fixa – entre São Paulo, Curitiba e Rio – trabalhando “na estiva” de um curta-metragem da produtora de uma amiga. Há um ano, num dos nossos primeiros encontros desde que ele tinha se mudado para São Paulo, estava pintando o apartamento de uma conhecida. No Rio, a atividade mais duradoura foi como motorista de táxi. No mais, passeios com cachorros, consertos de máquinas de lavar e bicos esdrúxulos como sublocar o ap a um grupo de teatro completavam o pagamento do aluguel. “É menos chato. Você tem uma relação mais lúdica com a coisa. Não fica querendo pagar o condomínio através daquilo”.
Caras como o Primitivo fizeram “uma escolha existencial errada”, diz o pesquisador e amigo Remier, citando a música “Artista é o caralho”, do Rubinho Jacobina. Quando nos encontramos para este papo, em frente ao Centro Cultural São Paulo, ele me perguntou quem era o figura que tinha me abordado, antes de entrarmos no bar. Era o Flávio, um doido que mora ali pela rua e trabalha guardando os carros. “Tem uns malucos que não precisam ler livro nenhum. Eles mesmos já são os próprios livros”.
Basta conversar um pouco com o Nilsão – ele próprio, um filme de si mesmo – para eliminar qualquer leitura romantizada e pré-concebida do tipo “cineasta-marginal-injustiçado”. Nilsão é um outsider – e “o problema do outsider é essencialmente um problema a ser vivido; escrever sobre ele em termos de literatura é falsificá-lo” (Colin Wilson). A idéia acima é complementada no nosso papo: “Não sou contra conseguir grana. Porra, é ótimo. Mas se não conseguir, vai lá e faz também. Porque não é por vaidade, nem pra fazer carreira. Acaba até virando, mas os motivos são outros. Angústia mesmo. É coisa de quem não consegue dormir direito à noite, sabe como é?”.
FILMES DO NILSÃO DISPONÍVEIS NA INTERNET
Disponíveis no site Porta-Curtas:
Mais Velho, Idade da Pedra, O Crack do Futuro, Tesão em Saquarema, Império das Pelúcias, O Exu do Amor e Gru.
Link: http://www.portacurtas.com.br/buscaficha.asp?Diret=22503
Disponível no site Curta o Curta:
Entrevista com Primitivo Gonzáles – Direção: Christian Caselli – Cor – 6´ Nilson Primitivo, que na Mostra do Filme Livre 2006 ganhou uma retrospectiva completa de sua obra de 7 filmes realizados em 16mm nos últimos 5 anos, fala um pouco sobre patologias e telepatias que dançam na liberdade criativa de fazer arte e não apenas ciência ao mesmo tempo que o sink perde-se para dar lugar a novos sentimentos nem sempre lógicos e/ou aflitos inclusive.
Link: http://www.curtaocurta.com.br/exibe_filme.php?a=106&c=151
“DESCONJUNTO DA OBRA” DE NILSON PRIMITIVO:
Mais Velho (Rio de Janeiro, 2000, 16mm, pb, 14’)
Tesão em Saquarema (Rio de Janeiro, 2001/2006, 16mm, pb, 8’)
O Exu do Amor (Rio de Janeiro, 2001, 16mm, cor, 2’)
Idade da Pedra (Rio de Janeiro, 2002, 16mm, cor, 5’)
Duelo das Loiras (Rio de Janeiro, 2002, 16mm, cor, 8’)
Dez pro Inferno (Rio de Janeiro, 2004, 16mm, pb, 2’)
O Craque do Futuro (Rio de Janeiro, 2005, 16mm, cor, 5’)
Império das Pelúcias (Rio de Janeiro, 2005, 16mm, cor, 7’)
Gru (São Paulo, 2006, 16mm, pb, 8’)
Alerta aos Carcereiros (São Paulo, 2007, 16mm, pb, 4’)
Quando a Verdade Vai Entrando ou Carta aos Cegos (Para Aqueles que Sabem Ouvir e Falar) (São Paulo, 2007, 16mm, cor/pb, 2’)
TRABALHOS COM OS LOS HERMANOS:
Documentário:
Ventura (2004, 52´) - Direção de Nilson Primitivo e Sérgio Lutz Barbosa. Road movie experimental com o grupo Los Hermanos e seus fãs através do Brasil.
Videoclipes:
Sentimental– (2001) - Direção: Nilson Primitivo – Roteiro: Rodrigo Amarante O Vento – (2005) -Direção: Nilson Primitivo
Texto publicado em: http://www.revistaetcetera.com.br
Chacal (SOU CONTRA)
Aí vai uma entrevista feita por Edney Silvestre, para o programa Espaço Aberto, da Globonews, em agosto de 2007.
A entrevista traz um pouco da história do Chacal e do que ele pensa sobre poesia.
vale o click: http://video.globo.com/Videos/Busca/0,,7959,00.html?b=chacal
A entrevista traz um pouco da história do Chacal e do que ele pensa sobre poesia.
vale o click: http://video.globo.com/Videos/Busca/0,,7959,00.html?b=chacal
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
As 70 Almas no YouTube!
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Chacal (SOU CONTRA)
A CONTRA CULTURA VIROU CULTURA OU VOCÊ É CONTRA ?
Houve um período que existia uma cultura da elite e outra do povaréu. Isso durou. Shakespeare era povaréu ? hoje não ? e maiakovski ? era amado pelas massas ? odiado pelos camaradas jumentos ?
Houve a ascensão da classe média. Profissionais, que liberados da mão de obra escrava, escreviam direitinho. Esses abusados entrando no paraíso do consumo, precisavam de uma arte menos culta, afinal não eram especialistas e ao mesmo tempo mais elaborada. já sabiam diferir entre a mão e o garfo. Entra em cena o entretenimento, essa bosta. Uma arte feita para se assoar o nariz entre uma e outra golfada de sangue dominical. Uns se rebelaram contra isso. Mas sem esquecer que a mercadoria a tudo abarca, desde que mecenas já no hay, trataram de criar e vender tranqueirinhas geniais. O mundo abriu-se para uma arte que não vinha do populacho, nem da aristocracia dos píncaros inatingíveis. E povou a terra com seus quadrinhos, twists, filmes B, charlestons, machiches, chinoiseries. Um novo olho sobre um novo mundo. O futurismo havia chegado e se apresentado com seus tele kistches hodiernos. A princípio foi um bafafá. Quem em nome de quem executa essas blasfêmeas ? Pegar a santa seia e pintar um topete nos apóstolos. Transformar a vênus de milos numa padronagem para bidês, pintar as escrituras sagradas na pele de pigmeus. Tais impropérios, por não encontrar entendimento nem na massa nem na elite, encontrou seu espaço num gosto plebeu emergente. E se ratificou. Hoje é o que se vê : essa balbúrdia.
Houve um período que existia uma cultura da elite e outra do povaréu. Isso durou. Shakespeare era povaréu ? hoje não ? e maiakovski ? era amado pelas massas ? odiado pelos camaradas jumentos ?
Houve a ascensão da classe média. Profissionais, que liberados da mão de obra escrava, escreviam direitinho. Esses abusados entrando no paraíso do consumo, precisavam de uma arte menos culta, afinal não eram especialistas e ao mesmo tempo mais elaborada. já sabiam diferir entre a mão e o garfo. Entra em cena o entretenimento, essa bosta. Uma arte feita para se assoar o nariz entre uma e outra golfada de sangue dominical. Uns se rebelaram contra isso. Mas sem esquecer que a mercadoria a tudo abarca, desde que mecenas já no hay, trataram de criar e vender tranqueirinhas geniais. O mundo abriu-se para uma arte que não vinha do populacho, nem da aristocracia dos píncaros inatingíveis. E povou a terra com seus quadrinhos, twists, filmes B, charlestons, machiches, chinoiseries. Um novo olho sobre um novo mundo. O futurismo havia chegado e se apresentado com seus tele kistches hodiernos. A princípio foi um bafafá. Quem em nome de quem executa essas blasfêmeas ? Pegar a santa seia e pintar um topete nos apóstolos. Transformar a vênus de milos numa padronagem para bidês, pintar as escrituras sagradas na pele de pigmeus. Tais impropérios, por não encontrar entendimento nem na massa nem na elite, encontrou seu espaço num gosto plebeu emergente. E se ratificou. Hoje é o que se vê : essa balbúrdia.
Texto escrito por Chacal em seu blog: chacalog.zip.net/
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